Numa noitada de luzes brilhantes e gente bonita por todos os lados, sexta-feira passada o Centro de Eventos do Ceará esteve lotado na festa da escolha da Miss Brasil 2004. Tudo bem, tudo de acordo com o figurino. Na escolha de tantas belezas cheias de saúde e alegria foi apontada como a primeira classificada a jovem cearense Melissa Gurgel (foto). Ganhou com todos os méritos, atendendo com destaque os requisitos do concurso. Para que? Preconceituosas figuras em redes sociais, naturalmente do Sudeste e do Sul, manipuladas por espíritos pequeninos, passaram a postar mensagens não apenas contra a vencedora de fato e de direito mas indiretamente (ou diretamente?) contra os que tiveram a felicidade de nascer neste recanto do nosso imenso Brasil. Não é de hoje a discriminação com os filhos no nosso sofrido e explorado Nordeste. Muito antes, ainda numa sociedade feudal, alguns dos “sulistas” já nos olhavam com ares de superioridade, não perdendo tempo para nos menosprezar, zombar de variadas formas. Esqueciam como esquecem atualmente que eram os cabeças chata, os da região, junto com os imigrantes estrangeiros, a força do trabalho escravo que os levou à plenitude do desenvolvimento, explorados, sobretudo no corte da cana de açúcar e da lavoura em geral. A revolta com a chacota era tanta que se contava a estória de que, certa vez, um cearense foi comprar um penico numa venda, em São Paulo, e o abelhudo dono do negócio, pra tirar um sarro, disse-lhe que o utensílio lá se chamava de cearense. Diante do desprezo, a resposta do nosso “pau de arara” outra não foi: “ Pois então me dê um cearense por que quero despejar dentro um paulista”. Anedotas à parte, é vero que grande parte da gente do lado rico da nossa pátria amada, a maioria inconseqüentes e sem melhor formação, mesmo nos tempos de hoje ainda nos vêem de soslaio, como se superiores fossem. Não respeitam a nossa história de lutas e sofrimentos, o nosso falar, os nossos saberes, a nossa cultura, a nossa maneira de ser e de viver diante das calamidades Até presidentes da Republica, respaldados por um Congresso de maioria do Sudeste e do Sul, contribuem para a discriminação. De fato, nunca ofereceram o mesmo tratamento dado aos “primos ricos”, pouco oferecendo para que saiamos realmente do estado de pobreza. Engana-se quem pensa que o ex-presidente Lula foi eleito como verdadeiro nordestino. Não, ele já era um nordestino do sudeste, com pensamentos outros e não mais aqueles dos tempos em que chegou a São Paulo de “pau de arara”. Portanto, entende-se o por que dos injustos insultos contra a nossa Miss Brasil. Não foi a ela e sim a todos nós, cearenses. Apresentam a figura do “mineirinho” como homem do interior, mas sabido, diligente, diferentemente quando se referem aos nossos desvalidos tabaréus. Também ninguém “cai em cima” do gaúcho quando repete inconscientemente o seu “né” na linguagem coloquial ou do carioca ou paraense, quando “castigam” o S. Mas zombam como o fizeram agora com o linguajar do nosso homem do povo. E assim vai acontecendo com certo tipo de gente. Não obstante todas as campanhas, persistem em discriminar os negros, os “gays”, os pobres e os costumes arraigados próprios de determinadas pessoas e regiões. A Lei que temos sobre discriminação, preconceitos, é bonita. Infelizmente muita gente ainda não se “tocou”.
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