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sexta-feira, 24 de maio de 2019

VÃO-SE OS ANÉIS, FICAM OS DEDOS

Essa era uma expressão que a minha mãe, sempre que oportuno, referia. Dito que identifica o fato de que, ainda que e qualquer desconforto da vida gere tristeza, perda, algo resulta de positivo para alentar aqueles que padeçam  de tal desalento.
E a vida é uma superposição de momentos negativos, eivada de fatos que consomem a nossa tranquilidade. Assim ocorre sempre que a surpresa nos sonega da companhia de alguém que marque presença positiva em nossa convivência. Ainda que a saudade ocupe o espaço privilegiado que reservamos no nosso cotidiano, a memória guarda em seu arquivo tantos quantos tenham sido os instantes da presença.
Nestes últimos meses tenho sido abalado com seguidas notícias indesejadas. Ainda que perceba que é o fruto do determinismo do cosmos em que gravitamos, por sermos estruturas humanas, o que nos concede o privilégio da emoção, rendemo-nos aos abalos naturais que nos deprimem.
Há poucos instantes, recebi uma dessas notícias que, por surpresa, degradamos, através de um querido “irmão”, o EDUARDO TAWIL, o nosso DUDA da lide cotidiana. Depois de amargar a solidão que deprime, pela ausência de sua companheira de tantas aventuras, o mais que estimado amigo lusitano NUNO LIMA DE CARVALHO não resistiu à infecção que lhe consumiu a resistência.
Para os que não o identifiquem, NUNO foi dos mais leais amigos portugueses que a Bahia e o Brasil colecionaram nas últimas décadas. O seu relacionamento com a nossa baianidade foi extremamente estreita, o que lhe valia presença constante, tanto por estes limites como na companhia que acolhia com proverbial presteza na “santa terrinha”.
Já se vão tantas décadas de quando tive a felicidade de o encontrar e poder efetivá-lo no bojo do meu relacionamento. Exerceu com muita eficiência, mais que isto, com extrema utilidade, o cargo de Diretor do Cassino do Estoril, espaço em que estruturou e manteve ativo como se fora consulado destinado a recepcionar com todas as honras tantos brasileiros quantos tivessem o privilégio de ali o encontrar.
Nuno foi um liame extremamente positivo na ligação da cultura baiana com a lusitana. Durante mais do que um lustro, soube amealhar em seu torno as mais expressivas representatividades da cultura baiana. A excepcional relação sempre esteve liderada por Jorge Amado e Zélia Gattai, de quem guardou um relacionamento mais estreito. Ao lado de Jorge, la estiveram com destaque Caribé, Mário Cravo, Carlos Bastos e uma infinidade de personalidades das artes, da literatura e da história da Bahia. 
Um amigo que conservou enquanto em vida foi a mais expressiva liderança política da Bahia que foi Antônio Carlos Magalhães de quem, na companha do Dr. Manoel Telles e de Licínio de Carvalho, dentre outros, recebeu apoio total para realizar seguramente o mais belo evento que reuniu os dois países: A SEMANA DO TURISMO DA BAHIA-ESTORIL-PORTUGAL. Na qual gravitaram durante uma semana as mais representativas expressões do turismo e da cultura portuguesa, estas lideradas pela fantástica e inesquecível AMÁLIA RODRIGUES.
Àquelas alturas colecionou muitos outros baianos no rol da sua intimidade, a exemplo de PAULO GAUDENZI e MANOEL CASTRO. Tive, então, a felicidade de ser acolhido, da mesma sorte, no cadinho da sua intimidade e pude partilhar, durante muitos anos, da sua sempre agradabilíssima companhia. 
Inclusive, quando da elaboração, pela Assembleia Legislativa da Bahia, da última Constituição Estadual, tive a oportunidade de o trazer a Salvador e promover a sua ida à àquela Câmara a fim de discorrer sobre a atividade altamente valiosa dos “cassinos” para a economia de município, estado e a própria nação, a partir do exemplo português. E, por consequência, eu que havia provocado a inserção no projeto daquele diploma, a partir da iniciativa deflagrada em Minas Gerais pelo, então Secretário de Turismo local, TANCREDO NAVES, tive a alegria de ver incluído o dispositivo na promulgação da mais alta Carta baiana.
Nossa iniciativa, da mesma sorte, logrou ver aprovada a indicação do seu nome pela Câmara de Vereadores de Salvador como Cidadão Soteropolitano, em solenidade que foi testemunhada pelas mais expressivas autoridades e personalidades do Município e do Estado.
Com o apoio, inclusive, do próprio NUNO, logramos levar a Portugal a realização da “Noite de Gala do Turismo Luso-Brasileiro” quando tivemos a oportunidade, inclusive, de o homenagear com o troféu clássico “CATAVENTO DE PRATA”, em memorável noite no Dom Pedro Hotel Lisboa.
Tanto quanto foram memoráveis as noites que vivemos no Salão Preto e Prata do Cassino do Estoril, ao lado da nossa nunca esquecida e sempre amada TEREZA, no qual militou durante tantos anos, e foi onde ainda manteve a Galeria de Arte como seu diretor. 
NUNO era licenciado em Filosofia pela Universidade de Salamanca, na Espanha, e em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa. Exerceu as funções de Secretário Geral do Estoril Sol de 1971 a 2002, bem assim exerceu as funções de Diretor da Galeria de Arte do Cassino do Estoril desde 1975.
Por gentileza do companheiro DUDA TAWIL – que foi seu amigo durante todos estes últimos anos - como títulos honoríficos, colecionou alguns, a exemplo de Oficial do Infante D. Henrique, Comendador da Ordem do Mérito Vaz de Caminha, Brasil, Comendador do Mérito Civil da Espanidade, Cidadão Soteropolitano, este promovido na Câmara Municipal de Salvador por nossa iniciativa. 
NUNO foi o que podemos denunciar como uma das melhores almas do sentir lusitano. Que Deus o tenha, com certeza, na elite de quantos já nos deixaram. 

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