O turismo brasileiro revestiu-se da simbologia do luto. A BAHIA e o BRASIL comovem-se com a perda irreparável de um dos seus mais expressivos filhos. Ainda quando a vida lhe parecia sorrir, deixando livre e extenso o caminho para a sua produção, PAULO GAUDENZI viu-se acometido de afecção renal, que lhe levaria às últimas consequências.
Embora distúrbio circulatório fosse o desaguadouro da sua debilitação, em verdade os seus rins decretaram o fechamento de toda a sua criação. Do que conheci durante o seu sofrimento, aguardando indefinidamente a doação que lhe poderia subtrair o desfecho antecipado, recusou-se a admitir que a doação procedesse daqueles que foram a sua maior criação: os filhos.
Mas, quem foi PAULO GAUDENZI? Para nós, o maior expert do turismo brasileiro. Ensinou ao Brasil como se desenvolver uma importantíssima atividade econômica, com inteligência e competência. Proporcionou lições inquestionáveis a todo o país que, a partir da sua ascensão na Bahia, encontrou a diretriz a seguir, acompanhando a ousadia do baiano.
Ao buscar ideias para este relato, padeço da dificuldade dos que se comovem ao ter que denunciar a ausência definitiva de um “irmão”. Irmandade que me foi permitida desde 1971, quando, ao visualizar os caminhos luminosos do turismo para a economia do Estado, ANTÔNIO CARLOS MAGALHÃES descobriu PAULO GAUDENZI.
Então eu, na Secretaria do Planejamento, PAULO assumindo a Coordenação de Fomento ao Turismo, na Secretaria da Indústria, Comércio e Turismo. Substituía ELIANA KERTÉSZ, que se licenciava para conceber a sua primeira criação, a filha. Iniciou-se, assim, uma parceria que rompeu a imaginação, ACM no Governo e PG no comando do turismo baiano.
Ainda naquela década, PAULO fez iniciar sua história com o novíssimo Centro de Convenções, que tão ricas criações pode contar do que a Bahia conquistou em décadas, mas que, lamentavelmente, hoje se configura tão só em um espectro inconcebível. Dalí à presidência da BAHIATURSA foi só o vislumbre de uma estrada feericamente iluminada.
Então, PG trazia no seu “portfolio” a condição de Bacharel em Economia pela Universidade Federal da Bahia e licenciado em História pela Universidade Católica. Mas, em seus “arquivos”, o acúmulo de ideias que se constituíram no mais importante acervo que o turismo baiano e brasileiro poderiam aspirar. Emigrou da sua criatividade o fantástico conceito de “Bahia: Terra da Felicidade” com o qual ganhou o mundo vendendo a imagem da “boa terra”, constituindo-se, então, no principal destino nacional na vitrine internacional. Na Bahiatursa, a sua presidência, durante tantos anos, foi o desaguadouro da sua impetuosa criatividade.
Não satisfeita, a Bahia lhe destinou, ainda, por 12 anos, a condição de Secretário da Cultura e Turismo, desde o Governo de Antônio Carlos e até o de Paulo Souto. Em seu torno, soube articular a formação de uma equipe que marcou época no cenário do país. Sou testemunha de que provinham de todos os quadrantes nacionais técnicos destinados a absorver as lições que emanavam da genialidade. Até mesmo da Embratur, então, em Salvador estiveram assessores em busca da absorção dos eflúvios emanados da extrema criatividade.
Na estrutura de toda a ambiência emocional com que conduziu a política do turismo, não olvidou do quanto a música se enquadrava na estrutura promocional dos destinos que iluminou com tanta sabedoria. De onde não sonegou as filarmônicas e até mesmo o Balé Folclórico da Bahia, que marcou época na expropriação da cultura baiana a níveis inimagináveis.
O Carnaval de rua de Salvador foi um desses desaguadouros da sua inquietação em incluir num mesmo pacote todos os infindáveis atrativos do destino Salvador. Não se descurando do entendimento de que o Destino Bahia era muito maior, transpondo os limites da Capital, dali instituindo as 13 zonas turísticas do Estado com o que promoveu a sua interiorização. Foi além, imaginando também o Plano Estratégico para a década de 80.
No seu curriculum há muito mais, como a criação do Salvador Destination, que ocupou o espaço deixado pelo Convention Bureau, presidindo-o para altas conquistas. Ainda na Secretaria da Cultura e Turismo, inaugurou o inédito “Museu Rodin”, do qual tive a honra de presidir o seu Conselho por sua nímia destinação. Ainda depois de deixar as hostes do Governo, ampliou as suas dádivas a outros Estados, concedendo-lhes assessoria que marcou época.
Nos últimos anos, ligou-se a outro monstro do turismo brasileiro, que é GULHERME PAULUS, como Diretor da sua organização, com o que comandou, inclusive, a remodelação total do tradicional Hotel da Bahia, hoje ISHI Hotel da Bahia, de onde saiu para tentar amenizar as questões de sua saúde.
No seu funeral, se é possível considerar o estado de beleza, foi seguramente o mais belo de que testemunhei. Lá se encontravam do ex-Governador Paulo Souto a Armandinho, passando por inúmeros Secretários e ex, dentre personalidades de todo o quilate, não faltando o encontro, pela primeira vez, depois de tantos anos, de quase toda a equipe que comandou. Não lembro de ter testemunhado multidão tão rica de presenças.
É doloroso ter que reconhecer, mas deixei de ter próximo um dileto e leal “irmão”. Com o qual estive, desde os instantes remotos da Coordenação de Fomento ao Turismo. Um pormenor que configura a sua importância na cena da administração pública da nação, sobretudo no turismo, foi, sem questionamento, o cidadão mais premiado do país.
Que Deus o tenha no seu esplendor.
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