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sexta-feira, 31 de maio de 2019

A PRIMEIRA SANTA BRASILEIRA É DOS POBRES

Uma garota que gostava de empinar papagaio, jogar futebol, em que diziam que era uma excelente centro avante, era a mesma que percorria as ruas de Salvador a cata de contribuições para a construção de um dos maiores projetos assistenciais que o país conhece. E não admitia um não às suas investidas.
Tanto quanto foi a mesma que fazia suas refeições apenas em um pires e que tomava a sua bebida preferida, Coca-Cola, não num copo, mas numa colherzinha. Ainda aquela senhora, que mesmo ainda jovem, não gostava de perfume, ou de nada que atraísse as atenções para sí. Foi a mesma de quem diziam possuir um cheiro próprio, que lembrava jasmim ou lavanda.
Era a mesma garota provinda de família abastada que tinha tradição filantrópica. Foi aquela mesma freira que gostava de tocar acordeon e que convivia com a maior intimidade fosse com Mãe Menininha do Gantois, com a qual, frequentemente contatava por telefone e que se ajudavam mutuamente. Ou mesmo a que nutria forte amizade com um dos maiores líderes do espiritismo do país, o médio Divaldo Franco.
Era a mesma IRMÃ DULCE que, já nos seus últimos 30 anos de vida, sofreu de bronquiequitasia, doença que lhe comprometeu 75% de sua capacidade respiratória. A mesma religiosa que, quando Presidente da República José Sarney, vez por outra recebia sua visita de surpresa até os seus últimos anos de vida.
Inclusive, quando já acamada, por conta da debilitação de sua saúde, era costumeiro que nem percebesse a visita do Presidente da República. Sarney, então, não permitia que lhe acordassem. Beijava os seus pés e afirmava “Quero ver a minha Santa”, pois, mesmo em vida, já a considerava Santa.
Na sua simplicidade, as suas diversões prediletas eram empinar arraia (quando ainda jovem), assistir na televisão “Os Trapalhões”, como também o programa de rádio da Jovem Guarda que apresentava nada mais, nada menos do que Roberto Carlos. É sabido, inclusive, que, em 1997, o Rei Roberto Carlos realizava uma das suas tantas apresentações em Salvador. Foi quando ele teve a oportunidade de questionar o por que da Bahia não reconhecer a sua santidade.
A relação entre ambos era muito próxima. Sempre que ele vinha à capital baiana, Irmã Dulce o visitava. Era hábito de ambos tomarem, juntos, um chá de cidreira ou de erva doce. Ao cabo dos encontros, sempre, Roberto Carlos, ao se despedir, colocava um envelope com dinheiro em seu bolso.
Muito pouca gente tem conhecimento de que uma das pessoas mais famosas que a Irmã Dulce ajudou fora PAULO COELHO. E é êle próprio que, em seu livro biográfico “O Mago”, relata o episódio. Em torno de 1967, os seus pais o internaram em um hospital psiquiátrico. A cabo de  dois meses de internação, Paulo fugiu com a roupa do corpo e, utilizando-se de caronas, veio ter a Salvador. É sabida a amizade dele com o baiano Raul Seixas.
Sem dinheiro, sequer sem ter com o que se alimentar, porque se tornou um garoto de rua, teve a felicidade de encontrar a Irmã Dulce. Ele mesmo afirma que, logo após ser alimentado pela freira com um prato de sopa, solicitou-lhe recursos que lhe permitissem adquirir duas passagens para poder retornar ao Rio de Janeiro. Foi quando a freira escreveu um bilhete com a solicitação que ele, num guichê da rodoviária, conseguiu, enfim, trocar pelas duas passagens, o que lhe permitiu o retorno à sua casa.
O bilhete de 21 de julho de 1967, que levava o carimbo das Obras Sociais, apenas dizia: “Estes dois rapazes pedem um transporte grátis para o Rio de Janeiro”.
Muito antes do reconhecimento oficial pela Igreja, o povo já reconhecia a sua santidade e a proclamava. A comprovação, sobretudo, é se verificar que nada menos do que 60 igrejas e capelas no Brasil possuem relíquias do primeiro grau da freira. Mas não somente no Brasil. É sabido que fóra do Brasil, da mesma sorte, a sua devoção percorre inúmeros países, a exemplo das Filipinas, da Costa Rica, do Uruguai, da Espanha, de Portugal e dos Estados Unidos, onde existem relíquias da querida freira.
O Dom Tomaso foi um dos que estiveram com a Irmã Dulce nos seus últimos momentos. No dia 13 de março de 1992, os médicos que a acompanhavam solicitaram que todos deixassem os seus aposentos. O Padre Tomaso foi até a capela para rezar o terço. Revelou ele que, cerca das 16hs40m, sentiu um sopro frio. Pouco depois, ao retornar ao quarto da freira, segurou uma das suas mãos quando o monitor ainda registrava batimentos cardíacos. Exatamente às 16hs45m o coração da Irmã Dulce cessou de bater.
A freira que amava quiabada, adorava ouvir rádio de pilha, frequentar a Praia da Penha e que se escondia atrás da porta para que não a vissem comendo bolinho de estudante era a mesma que recebeu mais aplausos do que o Papa João Paulo II, na sua primeira visita à Bahia.
Na terça-feira, 14 de maio, o Vaticano anunciou oficialmente que a Irmã Dulce, freira soteropolitana, será proclamada oficialmente Santa, o que deverá ocorrer com a canonização em outubro vindouro.

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