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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

LIBERDADE E LIBERDADE DE EXPRESSÃO

A Charlie Hebdo se especializou nas críticas ácidas a, principalmente, todas as religiões. Muitas vezes são caricaturas deselegantes, de mau gosto e desrespeitosas aos fieis dessas religiões. Existem outras publicações pelo mundo que trilham caminhos parecidos, como o Canard Enchainè, na própria França. 
No Brasil tivemos no passado A Manha, do Barão de Itararé e mais recentemente O Pasquim - esse por sinal revolucionou o jornalismo brasileiro. Essas publicações sempre foram combatidas fervorosamente por diversos segmentos da sociedade, quase sempre os mais visados por elas. Ainda no Brasil, dois casos emblemáticos: A caricatura de Jesus crucificado e Madalena, sensual, se oferecendo. Jesus diz, “hoje não dá, Madalena, estou pregado”.  Essa caricatura, publicada no Pasquim,  causou a demissão de Jaguar, seu autor, do Banco do Brasil. Em outro caso, lembramos o enredo da Escola de Samba União da Ilha do Governador nos anos 90, “Ratos e urubus, larguem a minha fantasia”. Na alegoria, estava programada a imagem do Cristo Redentor. A Diocese do Rio de Janeiro proibiu na justiça – caminho correto para os ofendidos, a exibição do Redentor. Joãosinho 30, então o carnavalesco, colocou a imagem coberta com um pano preto e a frase “ Cristo Redentor, mesmo proibido rogai por nós”. Ganhou o Carnaval daquele ano e deu um verdadeiro tapa de luva na censura.
 No caso do Charlie, que vai ao extremo na crítica, o que defendo é sim a liberdade de expressão, o livre arbítrio e o destemor frente a forças retrógradas e fundamentalistas que pregam que a única verdade válida é a sua, não admitindo discordância. Recentemente, a produtora cinematográfica Sony cancelou a estreia de um filme que satiriza o ditador da Coreia do Norte com medo das ameaças feitas por seus esbirros. Felizmente, a produtora voltou atrás já no dia seguinte, colocando o filme em circuito comercial. O que está em jogo, na verdade é a liberdade que tanto é prezada no ocidente, a liberdade de traçar seus próprios caminhos, sem se submeter à vontade das forças obscurantistas que buscam controlar todas as manifestações de ideias e crenças, forçando a aceitação das suas. Não é a liberdade de criticas ácidas por  publicações ou outras manifestações legítimas do pensamento que está em jogo, o que está em jogo é a LIBERDADE em todas as usas nuanças que esses fanáticos não respeitam. Quanto mais as sociedades liberais se curvam às vontades da interpretação  fundamentalista, mais os fanáticos querem destruí-la.  Não concordo com a Charlie Hebdo, acho de profundo mau  gosto suas charges, por isso não a leio. Mas quero a liberdade de poder lê-la quando quiser, sem a hipocrisia dos que a combatem e, por tabela, combatem a liberdade de expressão.
Jornalista Antônio Calábria – Diretor-Editor da revista “Rota Viva”

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