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sexta-feira, 29 de março de 2019

VAIA, EXERCÍCIO DE DIREITO OU AGRESSÃO?

Pela minha veia incondicional de desportista, sobretudo de crítico que exercí profissionalmente durante vinte anos, não consigo me divorciar da análise de fatos que se destacam no esporte, notadamente no futebol, de que sempre fui – e continuo – apaixonado.
Permito-me, hoje, analisar a prática da “vaia” pelo público de determinada agremiação, quando os resultados de uma competição não lhe sejam satisfatórios. Certa feita, depois de ter editado dois livros – “Bahia de Todos os Títulos” (sobre a vida do Esporte Clube Bahia) e “Futebol Paixão e Catimba” (sobre a trajetória esportiva do destacado prócer OSÓRIO VILLAS BOAS – Presidente, então, do Bahia e durante muitos anos) ocorreu-me um episódio muito curioso.
Fui contatado pelo meu querido amigo e ex-companheiro das lides do rádio-teatro da antiga Rádio Cultura da Bahia, JOSÉ JORGE RANDAN, de que um certo colega jornalista o havia procurado com a solicitação de que a empresa dele editasse um livro que havia escrito precisamente sobre o Bahia. JOSÉ JORGE, evidente, aceitou o encargo. No entanto, quando leu os originais que lhe foram fornecidos, percebeu de que já havia visto antes alguma coisa muito semelhante ao texto que lhe fôra entregue.
Pesquisando nos seus arquivos, encontrou, então, o meu livro – Bahia de Todos os Títulos – e constatou de que aquele texto era simplesmente uma repetição do que eu havia editado. E me procurou precisamente para me informar de que impusera ao titular do novo livro de que somente o editaria se eu participasse como co-autor. Porquanto a parte considerável do texto, quase toda, era de minha lavra.
Embora relutando um pouco, acabei anuindo de dividir a autoria. No entanto, o ZÉ me encarregou de adicionar alguma coisa nova, sobretudo algo especial sobre a valorosa, famosa e irrequieta torcida tricolor. Tal solicitado, tal cumprido. Apenas acrescentei um artigo sobre a “VAIA”.
E tal ocorreu em virtude de, àquela altura, eu me surpreendi com um comportamento que não era habitual na torcida tricolor, vaiar o “esquadrão de aço”, mesmo que em situação adversa. E por que? É que a torcida do Bahia sempre havia sido considerada como o décimo-segundo jogador, tal o entusiasmo com que “empurrava a equipe”, mesmo quando a sua atuação não condizia com o seu habitual. E, via de regra, transmitia tanta “garra” aos atletas que, nunca raro, lograva virar os resultados para alcançar conquistas históricas.
É que eu havia sido testemunha de um episódio durante um clássico na Fonte Nova. Estando o Vitória amargando um placar adverso, com a equipe não se apresentando com um comportamento agradável, um certo repórter de pista da uma emissora local, à frente da entusiástica torcida rubro-negra que já dava sinais de insatisfação, exortou, estranhamente, aquela multidão a “vaiar o time que – na sua leitura – estava merecendo os apupos”.
Evidentemente, abominei aquela atitude. Ali, eu gravei como o embrião do início de uma mudança de comportamento pelo público da Fonte Nova, mesmo da gloriosa torcida imbatível do querido tricolor. 
Nas minhas considerações no artigo escrito para o tal livro, concluí que considerava, em virtude das circunstâncias, a “VAIA” uma a g r e s s ã o. E continuo com o mesmo entendimento. Senão vejamos.
A vaia importa em que alguém não aceite um resultado adverso. No entanto, reflitamos: o resultado de uma competição de, no caso, futebol, necessária e indispensavelmente, somente poderá ocorrer em três hipóteses: vitória de um dos dois adversários, vitória do outro adversário, ou empate. Nenhum outro poderá decorrer na competição.
Logo, não havendo como fugir desse determinismo, como se rebelar contra uma situação que tem que ser adredemente esperada? Por mais desagradável e insatisfatória que seja tal condição. Ganhar ou perder é uma condicionante do próprio esporte.
Outro argumento de que utilizei, então, e que reitero agora, é de que ninguém, nenhum torcedor paga por um ingresso de sorte a que lhe seja assegurado o direito de que a equipe da sua preferência, indispensavelmente, seja a vencedora. Evidente. O torcedor paga um ingresso para ter acesso a um local onde ocorrerá um espetáculo esportivo. Esse é o limite do seu direito. Ganhar ou perder é, inquestionavelmente, uma questão de eventual resultado.
Considero como exemplo (o dia em que faço estas considerações é 18 de março de 2019) o fato de, há cerca de cinco dias atrás, o Bahia ter deixado a Fonte Nova sob uma estreptosa vaia da sua torcida, por não ter logrado um resultado favorável que lhe poderia assegurar a classificação para a disputa do torneio baiano. Embora, na minha concepção, jogando razoavelmente bem, mas não atingindo o principal: o gol.
Ontem, atuando na cidade de Jequié, o meu querido tricolor, que jogava a sorte pela classificação que parecia muito distante, simplesmente aplicou 5 x 0 no pobre do seu adversário, inserindo-se definitivamente entre os quatro semifinalistas. Enquanto o seu maior rival, o Vitória, que era tido e havido como já classificado, logrou uma contundente derrota que, aliada a outros resultados, excluiu-lhe da classificação.
Então, o mesmo preparador técnico que dias antes havia sido execrado e para o qual foi solicitada, com veemência, a dispensa, “deu a volta por cima” e colocou o Bahia nas semifinais.
Por conclusão, a “Vaia”, na minha modesta concepção, é, pois, o prenúncio da agressão.

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