Estes primeiros meses do ano têm proporcionado muita controvérsia na opinião pública. Toda ela gerada pelos seguidos e equivocados pronunciamentos de algumas autoridades. Verdade que êste veículo se destina à divulgação das coisas do turismo nacional e internacional. No entanto, permito-me uma análise sobre recente questão derivada de uma nova afirmação de autoridade, levando em consideração que, por analogia, a decisão anunciada, de alguma sorte, é argumento perfeito para se ajustar à situação do turismo brasileiro.
Refiro-me ao inoportuno anúncio de que três Universidades Federais deveriam ser “punidas” com a redução drásticas dos recursos orçamentários que lhes são destinados. As Universidades do caso seriam as da Bahia, de Brasília e do Rio de Janeiro (Fluminense). O argumento (!) fôra de suprimir tais recursos num total de “meros” R$37 milhões.
O mais impressionante foi o argumento para justificar tal “punição”: o corte de 30% no orçamento das universidades seria em razão da “balbúrdia aliada ao fato de que não tiveram o desempenho acadêmico esperado”. Por si só, um argumento absurdamente estranhável, sobretudo quando advindo de uma autoridade do setor.
A alegação foi tão estranha que – diante da reação praticamente unânime da nação - decidiu-se contornar o ato abjeto com a retificação de que a redução orçamentária deveria ser, em verdade, aplicada a todas as universidades do país. Entrevista publicada em destacado jornal de São Paulo, dá-nos conta de que a autoridade teria caminhado mais além ao assegurar de que “...a universidade deve estar com sobra de dinheiro para fazer bagunça e evento ridículo”.
A reação de inúmeras personalidades com vínculo com a educação e a cultura alcançou nível tal com a assertiva de que “fazer da gestão do orçamento público instrumento de discriminação institucional, punição ideológica ou retaliação política é crime de improbidade. É, por exemplo, como opina o ex-reitor da UFBa NAOMAR ALMEIDA.
Até porque as universidades públicas são protegidas em sua autonomia pela Costiituição Federal. Vale, mais que tudo, considerar que as três universidades punidas com verba cortada havia melhorado a sua posição no principal ranking universitário internacional, o Times Higher Education (THE). Como uma consequência imediata, o Ministério Público Federal decidiu intervir na questão, instaurando um inquérito civil para apurar os critérios que teriam embasado o bloqueio da verba.
Com respeito à UFBa, apenas algumas referências serão suficientes para mostrar o quanto infeliz foi a afirmação. Criada em 1808 com a Escola de Cirurgia da Bahia, primeira instituição de ensino superior do Brasil e embrião da própria UFBa, que seria oficialmente instituída em 1946. Em 1866, o médico português radicado na Bahia, Otto Wucherer descobriu a filaríase, a forma sintomática da doença mais conhecida como Elefantíase. O médico e pesquisador Pirajá da Silva descobriu, em 1908, o parasita que provoca a esquistossomose intestinal, em pesquisa realizada no antigo Hospital Universitário. Em 1955, a UFBa foi a primeira universidade brasileira a criar curso s de graduação de Teatro, Música e Dança, colocando a instituição como pioneira nas artes, o que se verificou na gestão do Reitor Edgard Santos.
Ainda mais: em 1959 foi criado o Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), vinculado à Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, tendo sido a primeira instituição voltada para a pesquisa sobre o continente Africano. Ainda em 1959, a Faculdade de Administração foi pioneira no país, levada para a Bahia em parceria com instituições americanas, junto com as Faculdades do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
No que pode ser considerado como autêntica revolução linguística, em 1960 foi criado o Atlas Prévio dos Falares Baianos, que se constituiu no primeiro atlas linguístico do Brasil, o qual foi coordenador pelo Professor e Pesquisador Nelson Rossi, do Instituto de Letras.
Em 1983 foi, da mesma sorte, criado o Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre a Mulher (NEIM), grupo que originou o primeiro bacharelado em estudos de gênero e diversidade do Brasil (que ocorreu em 2009). Novos cursos foram criados na UFBa em 2008, com o advento do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC). Tal iniciativa revolucionou o ensino de graduação com os bacharelados interdisciplinares.
Há uma infinidade de outras iniciativas pioneiras que mostram a atuação da UFBa, como de outras universidades nacionais. Como a descoberta recente do vírus da “zika” no Brasil, colocando a UFBa nas principais manchetes do país. Da mesma sorte como a universidade desenvolveu pesquisas sobre o petróleo, há mais de 50 anos, tornando-se também uma referência no país.
Seriam até cansativas tantas citações. Mas, a conclusão que desejo chegar, de modo a estabelecer uma certa analogia, é que, se a situação do ensino universitário alcança tal destempero no país, qual será o destino dessa nossa tão importante atividade econômica que é o TURISMO? Para qual pouca ou quase nenhuma atenção é destinada pelo “poder central”?
As perspectivas são, lamentavelmente, sombrias.
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