Os galpões usados pelas escolas de samba do Distrito Federal estão cheios de fantasias prontas e empilhadas, dificultando até a circulação pelos locais. Os carnavalescos estavam quase prontos para sair na avenida quando o governo do Distrito Federal anunciou o cancelamento dos desfiles, na quarta-feira (7), por falta de verbas. As 21 escolas pediram R$ 6,35 milhões no ano passado para custear os preparativos para a festa. Não receberam um centavo. Hoje o governo acumula um rombo superior a R$ 3,5 bilhões.
Conforme a Agência Brasil, o presidente da União da Liga das Escolas de Brasília, Geomar Leite, diz que as escolas vão tentar manter o desfile judicialmente: “As escolas ainda não jogaram a toalha, ainda estamos trabalhando. Vamos buscar, se possível, judicialmente a manutenção do carnaval”. Segundo ele, o governo pediu o prazo de 48 horas para conversar com empresas e buscar patrocínio. Uma alternativa é fazer um desfile menor, de apenas um dia e sem premiação.
A notícia do cancelamento foi uma surpresa. As escolas entregaram, no ano passado, o orçamento ao ex-governador Agnelo Queiroz, que se comprometeu a cumpri-lo. A primeira parcela deveria ter sido paga em outubro. Recém-empossado, o novo governo pediu a redução em 20%. As escolas conseguiram abater 22,6%. “Ele disse que resolveria o problema, dando ainda mais esperança para o pessoal continuar trabalhando. Tem gente que está há seis meses sem receber”, diz Leite.
O trabalho começou em julho. Entre os funcionários, uma equipe veio do Rio de Janeiro para trabalhar na confecção das fantasias. As mercadorias foram compradas com cartas de crédito em lojas do Rio e São Paulo. A dívida é de R$ 2 milhões, de acordo com Leite.
“Está muito complicado. Não dá nem para comprar um sabonete, se você quer saber”, diz a costureira carioca Cássia Regina Dias, que dedica três dos 38 anos ao carnaval da Grande Rio e pela primeira vez veio trabalhar em Brasília. “No Rio duvido que isso aconteça. A gente trabalha no carnaval e se mantém o ano todo”.
Para exigir um financiamento, as escolas se baseiam na Lei do Carnaval (Lei 4.738/2011 do DF), que diz que o carnaval deve ser organizado, gerido e apoiado financeiramente pelo GDF, que deve proporcionar a infraestrutura, os serviços públicos de apoio e a divulgação necessários à realização do evento.
"Onde está a verba da cultura? Não pode colocar tudo nas costas do carnaval. Cada área tem sua verba, tem o dinheiro da segurança, da saúde, da educação, cada um tem a sua participação no orçamento", indigna-se o aderecista Sidney Waldo, que há 15 anos trabalha no carnaval do DF.
O secretário de Turismo do DF, Jaime Recena, disse na sexta-feira (9), decorrido quase todo o prazo acordado, que conversou com alguns empresários e que há pessoas interessadas no financiamento. A secretaria ainda vai preparar um plano para apresentar oficialmente aos possíveis patrocinadores. Para que os desfiles fossem realizados regularmente, seriam necessários R$ 12 milhões. Ele ainda não fechou o valor que o GDF pretende captar para o carnaval alternativo.
Com os adereços prontos e o samba-enredo ensaiado, o presidente da Império do Guará, Mário Santos, que acumula dívida de R$ 167 mil, resume o desejo dos carnalvalescos da capital em um verso da música de Alcione: "Não deixe o samba morrer". (Com a Agência Brasil).
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