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sexta-feira, 19 de junho de 2015

CALEIDOSCÓPIO - SANTO ANTÔNIO, SÃO JOÃO E SÃO PEDRO

SANTO ANTÔNIO, SÃO JOÃO E SÃO PEDRO
O Nordeste brasileiro está envolvido nas comemorações das tradicionais festas juninas. Cidades como Campina Grande e Caruaru continuam anunciando o “Maior São João do Mundo”. Cada qual mais se esmerou para oferecer à sua população uma quadra de espetaculares festejos, em que cenários reproduzem ambientes típicos da roça e apresentam os mais afamados cantores e músicas que  levam os milhares de “matutos” a esquecer os tempos difíceis por que passamos e se soltam dançando o forró pé de serra. Fortaleza também está na “briga”, realizando o que deseja ser o maior São João das capitais. São festas grandiosas as de agora, imitando às vezes grosseiramente, a tradição dos folguedos de antanho. Invencionices fazem as quadrilhas caricatas. O forró verdadeiro, aqui acolá, é substituído pela exibição de novas bandas, repletas dos axés da vida.  À propósito de tanto embalo,  recordo dos meus tempos de adolescência, nos anos trinta, quarenta dos mil e novecentos. Cidade pequena, população que pouco ia além dos quinhentos mil habitantes, povo ainda ingênuo em comparação aos dias de hoje, o mês de junho também era muito esperado. Nas vésperas e nos dias consagrados a Santo Antônio, São João e São Pedro o alvoroço era grande, principalmente nos subúrbios dos  poucos bairros em que a cidade se enquadrava,  As comunidades se esmeravam e, homenageando os santos, promoviam folguedos cheios de vida, luz e euforia sem fim. Caprichavam nas danças de quadrilhas, ainda cantadas à moda francesa, nos “casamentos” e no forró agarrado. Não havia rua sem muitas e grandes fogueiras. Os foguetes, rojões, os “rabos de saia” e os traques animavam o ambiente. Nunca faltava bolo de milho, de batata ou de macaxeira e pé-de-moleque sempre regados a um bom aluá ou a um cálix de licor artesanal, de tangerina ou outras frutas, até de jenipapo. E as rezas, cânticos e os outros artifícios das solteironas arrodeando as fogueiras para arranjar casamento? As que não faziam suas simpatias na noite de Santo Antônio, o casamenteiro, apelavam para as fogueiras de São João e São Pedro. Nenhuma queria ficar no “caritó”. Pelo dito ou não dito, muitos namoros e casamentos foram “ocasionados” pelos três santos. As danças rolavam nos terreiros pela madrugada a dentro, animadas quase sempre pela sanfona, reco-reco,  “bateria” e triângulo. Aqui, acolá, também “incendiavam” as noitadas  um saxofone, clarinete  ou pistom.  Lembro que, no José Bonifácio, na rua Floriano Peixoto, duas quadras depois do Quartel da Polícia, um dos mais importantes 'arraiais” ficava no quintal das casas da Dona Cota, mulher disposta e amiga, mãe do Geraldo e do Aloisio, e do “seu”  Alcino, um garçom de classe e que tempos depois foi sócio do afamado restaurante  Estoril. A festança lá corria boa demais, com a cambada  sempre querendo conquistar a Neguinha, uma paraibana fogosa e bonita e que não era preta.  Briga! Aqui, acolá aparecia um arruaceiro querendo baldear o coreto. Não tinha vez, pois ia  pra fora, muitas vezes levado para o xadrez. Ah! o tempo é implacável. Passa sem a gente notar.  “Como é diferente o amor em Portugal”! ...

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