CARLOS CASAES ABRAJET BA |
O segundo maior polo turístico do Estado - Ilhéus, no litoral sul da Bahia, constitui, sem dúvidas, o primeiro maior polo turístico do Estado, depois de Salvador, a considerar o seu extraordinário potencial. O que embasa a afirmação é o seu complexo de atrativos. Vejamos: quase 100 km de litoral, onde estão belíssimas praias; um acervo cultural fantástico, exaltado pela extraordinária obra de Jorge Amado e resumido no seu património histórico e arquitetônico; o excepcional cultivo do “cacau” - que já se constituiu no maior do mundo - o qual gerou o complexo fabril do chocolate; seu Parque Tecnológico com a CEPLAC, a Universidade Estadual de Santa Cruz Cabrália; e o Complexo Intermodal, este com o Porto Sul, o novo aeroporto internacional, a Ferrovia Oeste/Leste e a Zona de Processamento de Exportação, todos conjuntamente a duplicação da BR-415, projetos já em vias de consecução. Tudo isto consumado com uma infra-estrutura turística já eivada de excepcionais componentes.
Sem referência a nova segunda ponte para o Pontal, já em curso a sua construção.
Uma ameaça latente - No seu extraordinário acervo cultural, Ilhéus conquistou, já há décadas, um valiosíssimo parceiro, excepcionalmente resultante da fantástica obra de Jorge Amado. Nos seus livros, notadamente, “Cacau”, “Terras do Sem Fim”, “São Jorge dos Ilhéus” e “Gabriela Cravo e Canela”, dentre outros, aquele expoente da literatura universal configurou uma caracterização da cidade que lhe integrou a criaturas e especiais espaços, os quais passaram, indispensavelmente, a identificar a cidade.
Assim, lá se encontram, ávidos da curiosidade de nativos e visitantes, as figuras expressivas de Gabriela, de Nacib, de Maria Machadão, Tonico Bastos, e dos tantos “coronéis”. “Par i pasu”, ao correr do roteiro, lá estão o Bataclan, o Vesúvio, a Casa de Cultura e Museu Jorge Amado, o seu Teatro Municipal, os templos religiosos e quantos outros monumentos com o mesmo destaque.
Esse patrimônio parece estar ameaçado.
O Vesúvio desaparecerá? - Fato que sacudiu a nossa imaginação foi a notícia de que o Vesúvio, espaço onde estavam encarnadas as maiores criações de Jorge Amado: Nacib e Gabriela, teria sido fechado. Aquele espaço consolidava, desde a sua fundação arquitetônica em 1910, a imagem do arremedo de bar e restaurante da época, mantido por Nacib e municiado por Gabriela com as suas tão festejadas criações culinárias.
Era no Vesúvio em que, centrado na estátua de Jorge Amado a sua entrada – como o grande anfitrião – todos visitantes, sem exceção, iam buscar guarida nas delícias dos quibes e tantos outras iguarias configurantes das muitas virtudes da Gabriela.
Um ícone imorredouro - O Vesúvio dividia prestígio com o Bataclan, este, como a materialização do desaguadouro das alegrias e prazeres que os muitos “coronéis” da época iam perseguir no regaço das “meninas” cultivadas com tanto esmero por Maria Machadão. Ali, uma rica história fora consolidada pela obra magistral do excepcional filho.
Mito ou verdade, fato é que, por exemplo, a revelada existência de uma passagem secreta entre o Bataclan e a Catedral, deveria funcionar como a “escapada” dos “coronéis”, fugidios de possível flagrante e alguma furtiva ousadia. Enquanto, no templo, simulariam os seus pendores religiosos, o Vesúvio, em frente a Catedral, seria a parada final para mais um trago estimulante. São histórias que enriquecem o acervo imaginário e turístico de Ilhéus.
Desativação temporária ou definitiva? - Ao receber a notícia da eventual desativação do Vesúvio, buscamos imediatamente informações que nos tranquilizassem contra a ameaça do seu fechamento definitivo. E a verdade que nos passaram foi que, de fato, o Vesúvio foi vendido pelo seu antigo dono, o festejado Guido Pasternostro, figura por demais prestigiada na cidade.
A transferência teria sido efetivada para outro investidor, igualmente proprietário de estabelecimento similar de além do Pontal, mais precisamente em frente ao Hotel Jardim Atlântico. O que assusta, no entanto, é o fato de que o Vesúvio foi cercado por um tapume que, desgraçadamente, dá indicação de possível reforma na sua estrutura, aontecimento que, consumado, poderia descaracterizar totalmente aquele maravilhoso patrimônio de Ilhéus.
Prefeitura com a palavra - Para alento de todos, informam-se também que a Prefeitura Municipal teria embargado a pretendida obra, considerando ser o Vesúvio uma das valiosas peças tombadas como patrimônio arquitetônico e cultural ilheense.
Resta-nos, a todos, a incômoda espectativa de aguardar o desentrave dessa situação, na esperança de que o Vesúvio seja salvo de qualquer ameaça de desaparecimento, o que desfiguraria irrecorrivelmente, sem dúvidas, a imagem da Praça Dom Eduardo e de Ilhéus.
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