O Polo Vitivinícola do Vale do São Francisco, que reúne sete vinícolas entre o Sertão de Pernambuco e o Norte da Bahia, tornou a área de caatinga nordestina na segunda maior produtora de vinhos, espumantes e sucos naturais de uva no Brasil. O polo ocupa uma área de mais de 10 mil hectares entre os municípios pernambucanos de Lagoa Grande (a capital da uva e do vinho do Nordeste) e Santa Maria da Boa Vista (que sedia a vinícola pioneira no negócio), além de Casa Nova (cidade baiana que incrementou o enoturismo na região).
Responsável por 99% da uva de mesa exportada pelo Brasil e pela produção de 7 milhões de litros de vinho por ano, o vale vem se destacando como modelo de desenvolvimento para o Nordeste. A vinicultura pernambucana/baiana já detém 15% do mercado nacional e emprega diretamente 30 mil pessoas na única região do mundo que produz duas safras e meia por ano.
O enólogo português Ricardo Henriques explica as razões da benesse: “Isto se deve em grande parte à particularidade do clima do Vale do São Francisco, que se resume, de forma genérica, às seguintes características: 300 dias de sol por ano, temperatura média alta durante todo o ano (o que permite o contínuo desenvolvimento da planta), pluviosidade muito baixa e água para irrigação abundante graças ao 'Velho Chico'. Todos estes fatores combinados permitem que a planta se desenvolva durante todo o ano, não estando condicionada à sazonalidade como em outras regiões tradicionais no mundo”.
O OÁSIS DO VINHO - Conforme dados do site especializado Academia do Vinho, o Vale do São Francisco abrange 500 hectares de áreas de uvas viníferas, 7 mil hectares de áreas de uvas comuns e 7,5 mil hectares de vinhedos. Entre as variedades tintas, destacam-se Syrah e Cabernet Sauvignon; entre as brancas, Moscatel, Muskadel, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Silvaner e Moscato Canelli.
A produção atual da região é da ordem de 7 milhões de litros ao ano e aumenta entre 5% e 10% ao ano desde 2001, segundo José Gualberto Almeida, presidente do Instituto do Vinho do Vale do São Francisco.
Em fevereiro de 2006, na Unidade da Embrapa Semiárido em Petrolina (PE), foi inaugurado um Laboratório de Enologia com tecnologia para ser um dos mais modernos do País. No mesmo ano, foi assinado convênio entre as instituições, no valor de R$ 795 mil, para implantação de vinhedos que pudessem servir de base para selecionar e divulgar novos cultivares, permitindo o desenvolvimento da pesquisa de novos vinhos com características peculiares da região.
RESISTÊNCIAS -Restam algumas dificuldades para os produtores, a começar pela resistência do público interno em relação a produtos nacionais. “O brasileiro prefere beber um vinho ruim chileno ou argentino a beber um bom vinho nacional”, conta o português João Santos, diretor técnico da Vinibrasil, há cinco anos no País.
Burocracia, falta de logística e de materiais de qualidade no mercado nacional (como rolhas e garrafas, por exemplo), gasto com frete e importações são outros problemas na competitividade do vinho nacional, além dos altos impostos que fazem com que os importados do Mercosul acabem chegando com preços menores que os nacionais. As vinícolas do Vale
A Vinícola Vinibrasil, situada em Lagoa Grande, está no polo produtor desde 2002. Possui grande aceitação entre os apreciadores da bebida e as marcas Paralelo 8, top com premiações internacionais, e os espumantes Rio Sol, são carro-chefe entre os rótulos da indústria.
Dos cerca de 7 milhões de litros produzidos por ano, a Vinibrasil é responsável por aproximadamente 1,5 milhão de litros. Além do Rio Sol e do Paralelo 8, a Vinibrasil disponibiliza para o mercado as marcas Rendeiras, Adega do Vale, Vinhamaria e o frisante, Bliss.
Em Casa Nova, no Norte baiano, o polo produtor de vinhos do vale são-franciscano tem na Vinicola Miolo excelência em produzir marcas tradicionais como Terranova e a conceituada entre os amantes do vinho, Testadi tinto. A vinícola produz anualmente 2 milhões de litros entre vinhos e espumantes e gera 150 empregos diretos.
O turismo do vinho tem cada vez mais tomando corpo na Fazenda Ouro Verde, sede da Miolo em Casa Nova. O grupo lançou há cerca de dois anos o 'Vapor do Vinho', uma agradável passeio pelo rio São Francisco, passando pela barragem de Sobradinho (BA) até chegar nas terras férteis das vinhas que fazem os vinhos conhecidos internacionalmente. O grupo Miolo trabalha com 11 marcas de vinhos.
A região ainda tem as vinícolas Biachetti e Garziera. A primeira tem focado em produzir vinho fino orgânico. Já a última é pioneira no receptivo turístico do vinho e na produção de suco natural de uva com a marca Sol do Sertão.
MAIS RESVERATROL - O diretor da Vinibrasil, André Arruda, destacou outro ponto que traz vantagem aos vinhos produzidos no Vale do São Francisco. “Nossas vinhas da variedade Syrah, para tintos, produzem cinco vezes mais resveratrol que em outras regiões tradicionais produtoras do mundo. Já foi comprovado que essa substância faz muito bem a nossa saúde”, revelou.
Ele conta que pesquisas já comprovaram os benefícios do resveratrol ao organismo humano. O resveratrol está presente em uvas para vinhos tintos. O seu uso permite combater entre outros danos, o mau colesterol; retarda o envelhecimento; é bom para a memória; e ajuda no funcionamento do coração. (Com informações da Academia do Vinho, Instituto do Vinho do Vale do São Francisco e Blog do Vinho).
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