Jornalista Hélcio Estrella Ex- Presidente da Abrajet |
Um dos muitos resultados da crescente importância do turismo na economia mundial tem sido sua contribuição para eliminar mitos que atrapalham sua inclusão entre as prioridades de governos nos três níveis de poder. Dizia-se até tempos não muito idos, ser uma prática para ricos e poderosos, estando, portanto, fora do alcance da maioria do povo. Vamos aos fatos para uma comparação. No período em que se caracterizava por estações, onde as férias escolares davam o tom, o turismo tinha um caráter patrimonialista, que o associava à posse de uma casa de campo ou de praia, ou umas férias em uma estação termal, onde os preços eram geralmente salgados para a maioria dos bolsos. As viagens se faziam geralmente de carro, quando domésticas ou de navio, quando internacionais. O avião depois iria substituir o navio, mas ainda como transporte de elite. O turismo que se poderia chamar de comercial era restrito aos fluxos de estrangeiros no Brasil, onde alguns americanos, argentinos e europeus vestidos a caráter – camisas de cores berrantes, chapéus panamá, bermudas ( que os brasileiros não usavam ) e meias de cores fortes – se sobressaiam em meio ao povo comum. Hoje, isso é história.
As férias nas serras e nas praias tornaram-se acessíveis por algumas razões, entre elas a urbanização acelerada e a construção civil, a indústria e as áreas de serviços passando a ocupar mais de dois terços das atividades econômicas, gerando algumas potentes faixas de trabalhadores – operários, técnicos e especialistas, e o instituto da universidade ( quase dois milhões de brasileiros na universidade em 2014 ) produzindo as emergentes classes médias e o atraente mercado de consumo que democratizou o acesso de quase todos aos bens e serviços nele produzidos. Na rica região industrializada do ABC Paulista é comum encontrar-se no chão de fábrica operários portadores de diploma universitário e que não pretendem trocar de profissão. Quanto ao carro, nem é preciso lembrar que hoje possuímos um carro para cada duas famílias, e que isso gerou uma cultura de mobilidade que fomenta fortemente a indústria turística. O navio deixou de ser o luxo do passado e é tão acessível quanto qualquer bem, como aconteceu com o avião. O hotel do século XX deixou de ser o local luxuoso de antigamente e passou a ser o hotel acessível. Empresas modernas passaram a agregar consumidores, para o que ajudou as passagens pagas em 10 módicas prestações.
Bares e restaurantes criaram uma profusão de serviços antes jamais vista, surgindo dai os hábitos chamados de gourmet e seus centros conhecidos, razão de atração de uma multidão de viajantes que são a força que sustenta centros gastronômicos do turismo atual e outros centros que empregam a força de trabalho de quase uma centena de atividades.
E o que dizer do avião de hoje, com passagens que são cada vez relativamente mais baratas e que fizeram a maioria dos viajantes trocar as viagens de ônibus pelas de avião, criando a maior indústria de transporte de passageiros da atualidade?
Com tudo isso, muitos políticos e autoridades continuam a torcer o nariz toda vez que se tenta argumentar que é preciso investir pesado no turismo. É coisa de rico, insistem em argumentar. E muitos duvidam quando se compara a distância entre a exigência de capital para se implantar uma indústria de transformação e uma unidade econômica de turismo. O mesmo volume de dinheiro necessário para gerar um posto de trabalho em uma indústria de transformação pode gerar até 17 empregos quando aplicado na indústria do turismo. A constatação é de um estudo da OMT- Organização Mundial do Turismo, publicado em Madri, onde ela tem sede.
Então, a pergunta: V. acredita que turismo é coisa de rico ?
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