UMA DATA PARA SE FESTEJAR
Não é puxando brasa para minha sardinha, mas é justo comemorar-se o Dia Internacional do Idoso, o 1º de outubro. Aliás, banalizou-se festejar em dias marcados uma série invencionices, umas sem pé nem cabeça. Contudo, é de se reconhecer e exaltar quem chega a uma idade provecta quase sempre com lições de vida exemplares, principalmente para as crianças, jovens e adolescentes. O idoso de hoje, com as turbulências mais acentuadas da Era Moderna, viveu um passado diferente. Predominava o dia a dia da família, com ensinamentos éticos, continuados na escola e se espelhando através dos maiores em todos os segmentos da sociedade. Não teve fases de transformações ocasionadas pelos movimentos de “rebeldia” dos jovens como nos anos 60 do século passado, pelos novos olhares das ciências sociais, pelas grandes descobertas de um mundo novo, com base na tecnologia e em avançados estudos nas artes e nas ciências. O “meu mundo”, por exemplo, era pequeno, Fortaleza era pequena. Os valores eram respeitados sem contrapontos. Era uma sociedade repressiva para os padrões de hoje. Só que as crianças e jovens viviam felizes. Jogava-se futebol com bola-de-meia nas ruas e nos campos de várzea, espalhados por toda parte. Ia-se ao cinema para assistir aos seriados ou filmes marcantes. As festas dançantes espalhavam-se pela cidade. Usava-se o bonde e a farda para ir à escola. Respeitava-se os professores tanto quanto os pais. O beijo roubado de uma namorada era uma façanha. Divertimento não faltava e a família estava sempre presente no ensinamento correto do modo de viver. Era sagrada a veneração aos mais velhos, “no meu tempo” assim considerados aqueles de cabelos brancos ou carecas, com cinquenta anos ou um pouco mais. Não é que agora, passados já noventa janeiros, seja contra o viver de hoje. Gosto e participo de quase todas as transformações sociais. As conquistas foram e são preciosas, mas considero exageradas, muitas vezes, nas dosagens. É legítimo e louvável o resgate de classes antes pouco consideradas. Mas acho exagero quando, para a sonhada “liberdade, igualdade e fraternidade”, se cria, por exemplo, cotas. Não é isto discriminação? Ora, não seria mais lógico oferecer dignas condições de vida, de oportunidades iguais para todas classes sociais? De qualquer forma, estou dançando conforme o ritmo. Continuo achando a vida gostosa e linda, mesmo com as pernas não lembrando as das três partidas de futebol que jogava aos domingos, nem participando dos “bazares de música”; mesmo, aqui e acolá, brigando com o “alemão” pois não sei onde coloquei os óculos. Continuo viajando mundo a fora, sempre impondo meus direitos consagrados na Lei que favorece os idosos. Contudo, muitas vezes fico em dúvida se os jovens de hoje , como era no “meu tempo”, também não têm apreço pelos velhos coroas. A dúvida comove quando uma mocinha bonita e jovial me indaga: “quer ajuda?”, quando venho do supermercado com pacotes de compra. Agradeço, mas me vem o fatal reconhecimento de que estou coroca mesmo. Considero o “ontem” muito bom, contudo o “hoje” também é maravilhoso. Afinal, como dizem por aí, quem vive do passado é museu.
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