FORTALEZA HOJE E ONTEM - Oficialmente, a cidade de Fortaleza completou ontem, 13 de abril, 291 anos de fundação. Os dados oficiais consagram que a nossa “loira desposada do sol”, no dizer de Paula Ney, se desenvolveu às margens do riacho Pajeú, após a segunda estada por aqui dos holandeses, que construíram o Forte Schoonenborch entre 1649 e 1654.Não vem ao caso, agora, a discussão de que a data da fundação deveria levar em conta os fatos acontecidos antes, com a vinda de Pero Coelho, que chegou até a construir o pequeno Fortim de São Tiago da Nova Lisboa, pelos anos de 1604, na margem direita do Rio Ceará, na nossa Barra do Ceará. A pretensão que tenho é meditar sobre a terra em que nasci e sempre vivi. As lutas empreendidas para ser respeitada nacionalmente, num contexto de uma região altamente descriminada, muitas vezes pela mãe natureza outras pelas autoridades maiores deste nosso Brasil. Como todas as metrópoles, a nossa terra “inchou” com a imigração do pessoal do interior do Estado, acossado pela seca e as poucas oportunidades de crescer. Hoje, Fortaleza pulou dos seus poucos mais de quatrocentos mil habitantes até a metade do século passado para mais de dois milhões e setecentos mil. É a quinta do país em densidade populacional. Estamos entre as que mais se desenvolvem, mas também, infelizmente, temos uma desigualdade social altamente acentuada, talvez a razão pela qual somos apontados como uma das mais violentas do mundo, uma Medelin de ontem que urgentemente precisa tornar-se a Medelin de hoje. Não é possível jogar para baixo do tapete a sujeira da marginalidade. Muitas são as mazelas, porém maiores são os bens materiais ou espirituais que a cidade ostenta. Somos uma metrópole tão moderna quanto as maiores do país. Vivemos uma era de progresso acentuado em todos os sentidos. Confesso, contudo, que mesmo não me incluindo entre os saudosistas, acho que a Fortaleza que vivenciei até o final do século passado era muito melhor do que a dos dias atuais. A cidade era pequena, mas aconchegante. O povo era mais solidário, mais despreocupado e alegre. Alcancei um tempo em que havia pobres, mas não miseráveis. Poucos eram os pedintes, na época chamados erradamente de “esmoleus”. As linhas de bondes e ônibus eram poucas, contudo a cidade não vivia tão espalhada e se ia a pé à escola, ao trabalho ou até mesmo aos divertimentos. Andava-se sem sobressaltos de dia, de noite, de madrugada. Os poucos ladrões eram de galinha nos quintais das casas. As cadeiras nas calçadas, à noitinha, um costume para se colocar as conversas em dia. Os casamentos eram para valer, para toda a vida. Enfim, tínhamos uma vida modesta, mas gostosa. A seu modo, inconscientemente, pobres e ricos viviam felizes na provinciana Fortaleza.
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