Hélcio Estrella |
Depois que o mundo quase todo descobriu que a gestão de aeroportos comerciais andaria melhor se entregue a empresas privadas, o Brasil resolveu que era hora de tirar de campo seu time estatal que criara para a área. A velha INFRAERO envelhecera, criara muita gordura - eufemismo para cabide de empregos, entre outros adjetivos depreciativos, o que a impediu de acompanhar a velocidade das mudanças na aviação comercial. Em outras palavras, para preservar seu negócio, acabou prejudicando o mercado, o que se traduziu no arcaísmo da infra-estrutura dos aeroportos brasileiros, significa dizer desconforto aos passageiros e problemas às operações das empresas aéreas.
Mas, apesar de tudo a velha INFRAERO continuou a existir e a comandar o sistema de aeroportos , ao ter garantido 49% do capital das empresas que passam a gerir, gradualmente, os terminais aéreos. Ou seja, jogou-se em cima da nova rede, privada, os custos e os vícios da velha rede estatal. Com isso, tudo indica que se nada for feito com coragem, chegaremos aos dois grandes eventos internacionais que precipitaram a decisão pela privatização aeroportuária no mesmo patamar de ineficiência que tem caracterizado o sistema aeroportuário nacional. Chegaremos à Copa de Mundo e aos Jogos Olímpicos com uma rede de aeroportos aquém de nossas necessidades.
Agora mesmo , a licitação de um dos mais importantes terminais brasileiros, o Galeão, ficou para ninguém sabe quando, acrescentando novos atrasos, além dos que já sofreu até agora. Dois motivos . O primeiro deles, por deixar de fora a empresa formada por grupos privados que ganharam a concorrência e ficaram com o aeroporto de Guarulhos. Tentando resolver o problema , modificou-se o Edital, voltou-se atrás, permitindo que este último grupo concorra à licitação. O segundo, a posição do Tribunal de Contas da União, que não deverá manifestar-se a tempo, dentro de sua velha tradição de atrapalhar as coisas boas que surgem na esfera pública. Apenas para rememorar, no começo dos anos 30 do século XX, a Argentina saiu na frente ao implantar um sistema aéreo de serviços postais, que o Brasil não conseguiu por obra e graça da burocracia imposta aos interessados ( leia-se Aeropostale/Jean Mermoz ) pelo TCU.
Há outros problemas mantidos em sigilo. A concessionária de Guarulhos não está satisfeita, embora tenha sido convidada ao ágape das novas concessões aeroportuárias e poderá ir à Justiça, acreditam alguns escritórios famosos de advocacia, o que atrasará, mais uma vez, o Edital. E o Tribunal de Contas , apesar de negociar em segredo com o Governo para um acerto final, a fim de evitar maiores prejuízos ao mercado, gostaria de tirar fora a INFRAERO, contra a decisão do Governo de mante-la nos novos negócios, garantindo empregos que se tornaram obsoletos. Embora o argumento do Governo seja o de que com a INFRAERO estará protegendo o grande patrimônio que os aeroportos significam , por trás existe um esforço sindicalista de garantir os empregos a seus associados.
Assim, o problema deve ser empurrado para o ano de 2014 que, como sabemos, é um ano eleitoral importante. Reza a experiência, que nessas ocasiões assuntos como eliminação de postos de trabalho bem remunerados, como são os da INFRAERO, não devem ser discutidos. E os aeroportos brasileiros continuam ruins, inclusive os que foram privatizados, que não conseguiram ainda corrigir as distorções em que os encontrou.
Alguém é capaz de dizer como ficará o problema ?
Hélcio Estrella – Presidente da Abrajet Nacional
Nenhum comentário:
Postar um comentário