Zelito Magalhães - Historiador e Jornalista
Há trinta anos os nossos meios culturais – jornalísticos, educacionais, artísticos e do cinema – perdiam uma das figuras mais brilhantes do cenário de nossa terra – Darcy Xavier da Costa. Homem simples e humano, dominava as atenções simplesmente pela sua inteligência, pela sua fleuma, pelo modo de ser.
O Clube de Cinema de Fortaleza, entidade que marcou época nas esferas socioculturais de nossa capital, foi uma das maiores referências de Darcy Costa. Entusiasta da Sétima Arte, ajudou a fundar o Clube, do qual foi seu primeiro presidente e que esteve com ele durante uma existência de mais de vinte anos. Darcy salientou-se ainda como professor de Inglês no IBEU.
Durante alguns anos, associados e aficionados tiveram a oportunidade de assistir os principais clássicos do cinema francês e e italiano, dispensando-se os russos por terem a entrada no Brasil proibida pela censura. Também merecem ser lembrados os nomes de outros entusiastas que pontificaram como fundadores do Clube, citando o jornalista e poeta Antônio Girão Barroso, Jairo Martins Bastos, Luiz Gonzaga Horizonte, Frota Neto, Tancredo de Castro, dentre outros. O amplo auditório da Associação Cearense de Imprensa abrigou por alguns anos o simpático Clube de Cinema de Fortaleza.
Por aqueles dias do ano de 1967, havia eu perdido o emprego público, depois de ter sido preso pela repressão militar. Munido de exemplar do jornal “O Dia”, procurei o Darcy na Gazeta de Notícias e contei a minha situação. O jornal era do ano de 1963, cuja manchete de 1ª página, por mim assinada, denunciava certa arbitrariedade cometida pelo então secretário de Segurança Pública contra um servidor de trânsito. Entendendo o sentido de vingança daquela autoridade, mesmo dia o Darcy me autorizou a trabalhar. Como eu, ele bem entendia o receio dos gerentes de jornais em não querer admitir jornalistas que tinham passado pelos porões dos quartéis. Ademais, em cada redação havia um censor militar que determinava o que podia e o que não podia ser publicado.
Indo certa vez ao gabinete do Darcy para tratar de determinado assunto do jornal, aproveitou o ensejo para falar de literatura, ou seja, comentar sobre um trabalho de minha lavra produzido em torno de Euclides da Cunha e que havia sido publicado no suplemento Letras & Artes, dirigido pelo colega Auto Filho. No ano seguinte, 1968, a Gazeta de Notícias era distinguida pelo prêmio nacional de reportagem, promovido pelo Ministério da Aeronáutica, que eu ganhara como repórter. Novamente fui ao gabinete do Darcy, desta vez para receber os parabéns pelo merecimento jornalístico. Confesso que o seu gesto muito me orgulhou, como também não deixou de ser simpático perante os companheiros de trabalho.
Houve tempo em que o jornal, por iniciativa do seu diretor, reunia aos sábados a equipe de jornalistas para debater sobre os mais diversos assuntos de sentido cultural. Ora comparecia um discípulo do Chico da Silva, pintor que estava em destaque nas esferas da pintura, para discutir-se com ele sobre a arte do mestre; ora contava com a presença do parapsicólogo padre Quevedo para fazer suas curiosas demonstrações em torno dos seus estudos fenomenais. Como não podia deixar de ser, o cinema também entrava na pauta, quando Darcy comentava sobre clássicos celuloides nacionais ou estrangeiros que chegavam e que eram exibidos nos cinemas de Luiz Severiano Ribeiro e em outras salas de projeções.
Esse foi o Darcy Costa que desencarnou no dia 1º de agosto de 1986, deixando um vazio em tudo que fez pelas letras, pelas artes e pela cultura do Ceará e muitas recordações a tantas pessoas que com ele conviveram.
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