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quinta-feira, 12 de abril de 2012

CALEIDOSCÓPIO - A MINHA FORTALEZA

Confesso que não sou saudosista. Não sou daqueles coroas que ficam repetindo “no meu tempo era melhor”. O bom é hoje, se a saúde ajuda. Mas (sempre tem um mas) quando repasso tempos passados, sou obrigado a confessar que os saudosistas têm muita razão. Nestes 286 anos que a minha terra natal hoje completa, muita cousa boa foi para o espaço na visão deste persistente octogenário que continua  viver a vida da melhor forma que pode, mesmo enfrentando doloridas barreiras. Impossível é negar que Fortaleza era uma beleza de cidade quando passei a ter melhor noção das cousas, a partir dos idos de 1938. Era pequena, como pequena era sua população, porém tinha seus encantos. Eu a conhecia toda. Da rua Floriano Peixoto, atrás do Quartel da Polícia, onde morava,  ia estudar, a pé,  no Instituto São Luiz e depois no Liceu. Doutor Pimentel, Otávio Farias, Martinz de Aguiar, Dario Soares, Hugo Lopes, Boanerges Sabóia, Porto Carreiro, Torquato Porto, Edmilson Sousa Lima, Byron Freire, Alcyr de Castro Araújo e tantos outros competentes mestres. Saia-se do colégio direto para fazer vestibular nas faculdades – e quase todos passavam.  Voltava de bonde, primeiro de “bochecha”  até a praça da Lagoinha ou a José de Alencar e daí em diante ia apanhar o José Bonifácio, cuja linha, na rua Major Facundo,  terminava na hoje Domingos Olímpio. Engraçado, naquele tempo não havia os miseráveis de hoje.  Os pobres eram solidários, tomavam café com pão e manteiga comprada a granel nas bodegas.   Almoçavam, jantavam, batiam papo nas calçadas até às 9 ou 10 horas e iam dormir.  Não havia classe média propriamente dita e sim pobres melhorados. Os ricos não eram tantos, confesso, muito mais solidários do que hoje.  Os cinemas mais importantes eram o Moderno, o Poliytheama, o Rex e o Majestic, na Praça do Ferreira, afora o Bemfica (com m mesmo), o Cine Luz, o Cine Centro e um ou outro dos bairros. Espetaculares muitos dos filmes exibidos, quase sempre melhores do que os apresentados hoje, não obstante a alta  tecnologia. O teatro José de Alencar sempre estava ocupado por uma grande companhia do sul. Procópio Ferreira, Barreto Júnior, as operetas Conde de Luxemburgo, Valsa do Imperador, Vicente e Pedro Celestino são marcos indeléveis.  Futebol, aos domingos, no campo do Prado (hoje onde fica a Escola Federal). Ceará, Maguary, Fortaleza, América eram os maiorais. Festas, o Ideal Cube sempre pontificou. Contudo, como é bom recordar da segunda-feira de carnaval do Country Club e do Clube Iracema, das noites de domingo  no Maguary, as de fim de ano, quando os colégios festejavam os términos de curso de seus alunos. E as do Marajaig, Ícaro, Santa Cruz, Idealzinho. E as “pensões alegres”, com as “meninas” vestidas de “soiré”, animadas, cada qual esperando o seu homem no final da noite? Não há mais “quengas” como antigamente. As profissionais de ontem são as espertas amadoras de hoje, espalhadas nas várias camadas sociais.  O melhor, voltava-se para casa a pé, cantando o “amor febril”. assobiando e não se era molestado por marginais (não havia assaltantes naqueles tempos). Bem, paremos por aqui, façamos um grande hiato. A Fortaleza de hoje também é muito boa, principalmente para juventude da época.  É pena e lamenta-se que a sua modernidade não tenha sido acompanhada de planejamento estratégico que satisfaça à população. As favelas são mal cuidadas, sem o mínimo de respeito para com a pobreza marginalizada. A saúde não é de boa qualidade, a educação muito deixa a desejar, a mobilidade urbana precária, muitas vezes um caos. A pior mazela, a segurança pública. Os marginais são os donos do pedaço.  Ninguém e lugar nenhum é seguro, até as delegacias de polícia são vitimas dos criminosos, fortemente armados e organizados. Droga, muita droga e de todas as espécies. Ir a banco é correr risco, A Fortaleza atual é uma bonita cidade, tem excelentes atrativos e possui uma população agradável e comunicativa. Mas, continuando como vai, como se viverá dentro de poucos anos? 

Um comentário:

  1. Ilustre José Carlos, boa tarde.
    Primeiramente meus respeitos e agradecimentos ao s por postar informações sobre nossa cidade.
    Paz, saúde e felicidades, para o senhor e sua família.
    O senhor fez referências a outros cinemas, e eu lhe pergunto: o Senhor conheceu/frequentou o cine ideal ou idealzinho, localizado na Avenida João Pessoa (então "Avenida da Morte"), no Bairro Damas? e o Cine América, no Bairro Jardim América? e o Cine Atapu?
    Assistiu ao seriado "O Império Submarino", que antecedia ao filme principal, aí pelo final de 1959, início de 1960?
    Gostei de ler suas lembranças sobre a Fortaleza Antiga.
    Por favor, continue.
    Um grande abraço.
    Laércio Martins

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