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quinta-feira, 13 de março de 2014

LEMBRANÇAS DE PATATIVA DO ASSARÉ

O dia 5 de março lembra a data de nascimento do imortal poeta popular, falecido aos 93 anos de idade, Patativa do Assaré.  Confessamos que um dos momentos mais emocionantes de nossa vida, como jornalista, foi, quando, na companhia do cinegrafista e sonoplasta Francisco Carlos (Chico Carlos), estávamos em Assaré, fazendo cobertura sobre as principais atividades agropecuárias, desenvolvidas pelos extensionistas da Ematerce, empresa na qual trabalhamos, desde 1978,  e fomos à casa do saudoso – repetimos -  “Patativa do Assaré”, nos seus 78 anos de idade, na presença de sua esposa, mais conhecida por dona Belinha, e da sua neta, de cujo nome não nos lembramos.
Patativa, ao chegarmos a seu lar, recebeu-nos, na sala de espera, sentado na “ preguiçosa”, como que a recitar, mentalmente, ou a criar, em sua extraordinária memória, versos e mais versos, pois era o que mais sabia fazer, em vida, como dizia sempre, de um simples agricultor. Na entrevista (parte não gravada), afirmou-nos que, quando morresse, perder-se-iam muitos poemas, visto conservá-los na memória e não costumar colocá-los no papel, a não ser aproveitando a boa-vontade da neta, que os transcrevia.
Para nós, jornalista, na cidade grande, quase fomos às lágrimas, ao vê-lo recitar diversos poemas, inclusive uns dedicados à nossa filha Arusha Kelly, elogiando-nos, sem merecermos. Vale citar, aqui, versos seus, ao perceber que ligamos o gravador: “Gravador que estás gravando, aqui, no nosso ambiente, tu gravas a minha voz, os meus versos e os meus repentes, mas, gravador, tu não gravas a dor que meu peito sente”. Neste momento, a emoção invadiu o nosso âmago e dissemos-lhe que, assim, nos presenteava com um dos seus melhores desabafos poéticos de sua indescritível lira.
Outro desabafo seu – ouvimo-lo com tristeza – foi ao dizer-nos que estava ficando cego, pois um já o tinha perdido há anos. Respondi a ele que pedisse para alguém de posses, para levá-lo à cidade de Campinas-SP, onde funcionava, na época, o melhor Centro Oftalmológico do Brasil. Ele retrucou-me não gostar de pedir favores e, se um dia, tal acontecesse, espontaneamente, seria muito grato a quem assim procedesse. 
Recordamo-nos que, ao final da reportagem, para o caderno de Turismo, do Diário do Nordeste, fizemos um apelo para autoridades governamentais do Estado do Ceará, sensibilizando-as a pagar as despesas de seu deslocamento e hospitalares, para evitar a perda de mais um olho, implorando que cuidassem do maior poeta popular do Brasil (Opinião nossa), para que, mais tarde, ao cegar, não aparecesse um político oportunista e demagogo, sugerindo a entrega de uma bengala, folheada a ouro, em reconhecimento pela divulgação de sua terra-natal e do Ceará, além-fronteiras. Meses depois, o ex-governador Tasso, mandou-o a Campinas. O problema foi aliviado, porém, com o passar dos anos, somente enxergava vultos.
Bem! Falar a respeito de Patativa é – como se diz – chover no molhado. Outros (as) notáveis do mundo literário e do jornalismo escreveram melhor do que nossa pessoa. Mas, de tudo o que vimos e sentimos, ao dialogar com ele, ficou uma lição de vida: SER HUMILDE, ÉTICO E VERDADEIRO É O QUE IMPORTA NESTE MUNDO. E – acreditem -  ELE FOI MAIS DO QUE ISSO: NEM GRANDE, NEM PEQUENO, FOI GENTE. E GENTE MERECE RESPEITO E ADMIRAÇÃO!
Antonio José de Oliveira - Vice-presidente da Abrajet CE

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