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sexta-feira, 6 de março de 2015

RECORDAÇÕES SOBRE PATATIVA DO ASSARÉ

Jornalista Antônio José
de Oliveira
Antes de falarmos a respeito de uma inesquecível visita ao imortal Patativa do Assaré, (passaram-se muitos anos), entristecemo-nos, recentemente, ao saber, por nossa filha Arusha Kelly, formada em Letras, pela Universidade Federal do Ceará, ao visitar, com um grupo de universitários de Letras e estudiosos do Folclore, o túmulo do Patativa, constatou o péssimo estado de conservação, num total desrespeito ao filho ilustre de Assaré e do Ceará. Para a data não passar em branco, a família celebrará uma missa, quando a Prefeitura e a Secretaria de Cultura do município deveriam patrocinar uma festa em homenagem à data de nascimento do famoso vate de Assaré e cuidar da manutenção do seu túmulo.
No dia 5 de março de 2015, se vivo fosse, o imortal poeta popular Antonio Gonçalves da Silva, famoso por adotar o apelido de Patativa do Assaré, completaria 106 anos de idade. Confessamos que um dos momentos mais emocionantes de nossa vida, como jornalista, foi, quando, na companhia do cinegrafista e sonoplasta Francisco Carlos (Chico Carlos), estávamos em Assaré, fazendo cobertura sobre as principais atividades agropecuárias, desenvolvidas pelos extensionistas da Ematerce, empresa na qual trabalhamos, desde 1978,  e dirigimo-nos à casa do saudoso “Patativa do Assaré”, com 78 anos de idade ( nasceu em 5 de março de 1909 e faleceu em 8 de julho de 2002 ), na presença de sua esposa, mais conhecida por dona Belinha, e da neta, que copiava seus poemas, de cujo nome não nos lembramos. 
Ao chegarmos a seu lar, recebeu-nos, na sala de espera, sentado na “ preguiçosa”, como que a recitar, mentalmente, ou a criar, em sua extraordinária memória, versos e mais versos, pois era o que mais sabia fazer, em vida, como dizia sempre, de um simples agricultor. Na entrevista (parte não gravada), afirmou-nos que, quando morresse, perder-se-iam muitos poemas, visto conservá-los na memória e não costumar colocá-los no papel, a não ser aproveitando a boa-vontade da neta, que os transcrevia. Na verdade, foi um poeta do improviso fácil. Aos 20 anos de idade, recebeu o pseudônimo de Patativa, por ser sua poesia comparável à beleza do canto dessa ave. O Assaré é devido ao nome de sua terra-natal, onde foi também agricultor, na Serra de Santana, localizada na região do Cariri, distante mais de 500km de Fortaleza, capital do Ceará.
Para nós, jornalista, na cidade grande, quase fomos às lágrimas, ao vê-lo recitar diversos poemas, inclusive dedicados à nossa pessoa e à  filha Arusha Kelly, elogiando-nos, sem merecermos. Vale citar, aqui, versos seus, ao perceber que ligamos o gravador: “Gravador que estás gravando, aqui no nosso ambiente, tu gravas a minha voz, os meus versos e os meus repentes, mas, gravador, tu não gravas a dor que meu peito sente”. Neste momento, a emoção invadiu o nosso âmago e dissemos-lhe que, assim, nos presenteava com um dos seus melhores desabafos poéticos de sua indescritível lira.
Outro desabafo seu – ouvimo-lo com tristeza – foi ao dizer-nos que estava ficando cego, pois um olho já o tinha perdido há anos. Respondi a ele que pedisse para alguém, de posses, levá-lo à cidade de Campinas-SP, onde funcionava, na época, o melhor Centro Oftalmológico do Brasil. Ele retrucou-me não gostar de pedir favores e se, um dia, tal acontecesse, espontaneamente, seria muito grato a quem assim procedesse. 
Recordamo-nos que, ao final da reportagem, para o caderno de Turismo, do Diário do Nordeste, fizemos um apelo para autoridades governamentais do Estado do Ceará, sensibilizando-as a pagar as despesas de seu deslocamento e hospitalares, para evitar a perda de mais um olho, implorando que cuidassem do maior poeta popular do Brasil (Opinião nossa), para que, mais tarde, ao cegar, não aparecesse um político oportunista e demagogo, sugerindo a entrega de uma bengala, folheada a ouro, em reconhecimento pela divulgação de sua terra-natal e do Ceará, além-fronteiras. Meses depois, o ex-governador Tasso, mandou-o a Campinas. O problema foi aliviado, porém, com o passar dos anos, somente enxergava vultos.
Bem! Falar a respeito de Patativa é – como se diz – chover no molhado. Outros (as) notáveis do mundo literário e do jornalismo escreveram melhor do que nossa pessoa. Mas, de tudo o que vimos e sentimos, ao dialogar com ele, ficou uma lição de vida: o que importa, neste mundo, é ser humilde, ético e verdadeiro. E – acreditem -  ele foi mais do que isso: nem grande, nem pequeno, foi gente. E gente merece respeito e admiração!   
Jornalista  Antonio José de Oliveira – Vice-presidente da Abrajet-Ceará

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