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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

CALEIDOSCÓPIO - OS CARNAVAIS DOS MEUS BONS TEMPOS

OS CARNAVAIS DOS MEUS BONS TEMPOS
Não há como escapar. Tudo na vida muda. As cidades se modificam, os costumes de ontem já não são os de hoje. Quem é longevo sente  na carne e no espírito as transformações. Vejo a Fortaleza de agora uma cidade muito, mas muito mesmo diferente dos meus tempos de criança e de mocidade fogosa, quando tudo eram flores, alegria, inconsequências. Dizem os que estão ainda no vigor dos seus bons anos que a vida de hoje  é melhor do que em outros tempos. Não são escravos das  normas antiquadas, a liberdade no modo de viver os faz “donos do mundo”. Acreditam que tudo mudou para melhor. Depois da modernidade e  velocidade nos meios de comunicação, das descobertas e caminhos novos nas ciências, nas artes, nos  costumes, são convictos de que os tempos atuais oferecem excelentes  condições e oportunidades, é  mais alegre e feliz.. É natural que pensem assim, pois estão em estado de graça. Depois, quando chegarem na curva descendente da existência, quando forem apenas expetadores do que está ocorrendo, quando o passado glorioso for apenas boa lembrança,  haverão de dizer, como nós, os corocas do momento, tempos bons eram aqueles...Pois é, os de ontem,  com ranços de saudade,   proclamamos como donos da verdade que antes o Carnaval era mais alegre e melhor. Como estamos fora dos circuitos carnavalescos atuais, vemos de soslaio os folguedos  da descontraída mocidade de hoje que está tomando conta dos locais públicos e clubes. Achamos incrível como se desvirtua tanto a farra momina. Naquele tempo... a nossa pequena população, quase toda ela,  se envolvia e participava das festas. Nos corsos, desfilavam os Maracatus Az de Ouro e Az de Espada, os blocos e escolas de samba Lauro Maia, cantando de Luiz Assunção “Minha Escola”, “Prova de Fogo”, as “Coca-Colas”, a “Turma do Camarão”  e os “sujos”,  com suas  críticas.  Num certo tempo, saiam do Passeio Público, passavam pelas ruas Barão do Rio Branco, Avenida Duque de Caxias e voltavam  pela  Major Facundo (ou Floriano Peixoto?) até a Praça do Ferreira. As calçadas ficavam apinhadas de gente alegre, com cloretil e serpentinas  para homenagear seus preferidos. Havia um dia em que o corso era só para o desfile de carros com os e as  dondocas da época. Também caminhões com orquestras participavam dos folguedos, muitos deles com o puteiro da Dandom e ou da Nena, todos com as “meninas” saltitantes mas nada que ferisse a moral. E os taradinhos, que aproveitavam o arrocho nas calçadas para ficar atrás de uma “boa “, conivente, aplicando o famoso pino? A festa do povão acabava após o corso. À noite, a folia era no Ideal, no Maguari, no Náutico, nos Diários, deixando o Country Club sozinho para a fuzarca da segunda-feira. Que dizer das músicas cantadas durante o Carnaval, que eram divulgadas desde dezembro para que o povo aprendesse? Eram sambas e marchas rancho e marchinhas do melhor quilate, divulgadas pelos “monstros sagrados” da época, como Orlando Silva, Silvio Caldas, Emilinha Borba, Ângela Maria. Quanta lembrança da Dalva de Oliveira, cantando “Bandeira Branca”, uma joia de Max Nunes e Laércio Alves? E Zé Keti, com sua “Avenida Iluminada”, letra de Nilton Teixeira?  Já no final desta época de ouro para nós, o cearense Evaldo Gouveia foi destaque, com seu “Bloco da Solidão”, em parceria com Jair Amorim, e outras mais. Quanta recordação! Agora é cinzas, só que diferentes das de  outrora,  pois não há  mais a expectativa daqueles tempos pelo carnaval do outro ano. 

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