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sexta-feira, 30 de setembro de 2016

O TRÁGICO DESTINO DE UM BELO E PODEROSO EQUIPAMENTO

Carlos Casaes
Abrajet BA
Na década de setenta, corria naturalmente a gestão do Governador Roberto Santos, na Bahia. O turismo no estado já havia iniciado a sua decolagem e se afirmava como um reforço considerável na economia baiana, interferindo positivamente no seu PIB. Buscavam-se opções que contribuíssem para que a economia observasse crescimento mais acelerado. O Governador, então, sinalizou no sentido de que gostaria de realizar alguma coisa de nova e objetiva no setor da atividade turística.
Foi aquela altura que lhe sugeriram consultar um dos mais destacados e experientes executivos da hotelaria de então, em Salvador. O pernambucano Guilherme Gomes, que já se consolidara na comunidade turística local como um dos seus expoentes, com passagem afirmativa em várias unidades, a exemplo do Hotel Plaza, do Salvador Praia Hotel e do Bahia Othon Pálace, que dirigia. 
Guilherme não se fez de rogado, então. No contato com o governador, informou-lhe que entendia ser um equipamento o mais indispensável para que a Bahia – Salvador em particular – decolasse em definitivo na escalada ascendente do turismo, um moderno Centro de Convenções.
Na sua vasta bagagem, reconhecia a necessidade de ser movimentado o setor de eventos, um dos alicerces mais poderosos e capazes de estimular a visitação, com influência decisiva na ocupação da hotelaria. Sobretudo como instrumento de equilíbrio sazonal.
O Governador, sensível as racionais sugestões, acolheu a ideia e partiu para a sua concepção. Aquele contato resultou positivo com a elaboração do projeto e o consequente início das obras. A configuração era ambiciosa, para a época. Uma proposta com a opção pelo partido arquitetônico vertical, porquanto dotado de cinco pavimentos, ocupando toda uma vasta área em frente a um dos mais valiosos espaços na orla de Salvador, logo a seguir ao Jardim de Alah.
O projeto era inovador, então, pois contemplava uma estrutura metálica poderosa. Aquele pormenor, contudo, na prática, veio a informar a necessidade de uma permanente, especial e agressiva conservação, porquanto vítima da ação corrosiva do salitre. Tendo em conta que aquela área era considerada como a de maior incidência do fenômeno, na orla da capital baiana.
Sem dúvidas, o Centro de Convenções da Bahia constituiu-se num equipamento alavancador do crescimento do turismo, uma vez que foi diretamente o responsável pela captação de seguidos eventos. Para tal, valeu a ação dos órgãos oficiais que constituíram setores especializados e competentes, aliados a iniciativa privada direcionada naquele sentido.
Com o correr dos anos, a experiência confirmou a indispensabilidade de ações de permanente  conservação da parte metálica, dentre outras, como forma de lhe manter intacto. Na última década, contudo, aquela indicação não fora observada, gerando um desgaste fora de controle, o que determinou a sua inevitável interdição. Tal providência, aliada ao desajuste que a Cidade do Salvador havia experimentado, com a sua integridade comprometida em razão da fragilidade de uma administração municipal, determinou um baque violento nos índices de visitação, caindo sobremaneira os níveis de ocupação da hotelaria.
Criou-se o impasse: o que fazer? Particularmente, desenvolvi a tese de que urgia a necessidade de construção de um novo Centro de Convenções, convencido de que aquele, nas suas dezenas de anos de validade, já havia contribuído decisivamente para a função a que se destinara. Concebi, então, que o caminho ideal seria o de se optar por uma PPP, ou coisa que o valha. De sorte a que todo o considerável espaço, em que o velho Centro se encontrava, constituía-se em uma área das mais valorizadas na urbe soteropolitana e seria posto como moeda de troca com a iniciativa privada. O que determinaria, em contrapartida, a construção, pela empresa destinatária, de um novo equipamento. E visualizei, dentre outras, a vastíssima área conhecida como Aeroclube, onde caberia um moderno e funcional prédio, com todos os requisitos dos avanços tecnológicos – o que o antigo não possuía, em virtude da sua natural antiguidade. .
Espaço existe para atender a todas as necessidades, como localização privilegiada e condições de acessibilidade e estacionamento. Aliás, uma área onde já existiu um “shopping center” e há vários anos se encontra destinada a novos projetos, mas que, por questões judiciais e outras de inspiração diversa, continua inaproveitada, lamentavelmente.
Mas, uma outra área também possível de aproveitamento pela sua dimensão e disponibilidade seria o Parque Agropecuário, no final da Avenida Paralela e próxima ao Aeroporto.
Lembro de que, ao assumir a Secretaria Estadual de Turismo, o meu sobrinho, o competente Deputado Federal Nelson Pellegrino, promoveu um encontro com a minha presença e a de Paulo Gaudenzi. Ao ser abordado o tema, manifestei a minha tese de construção de novo prédio. Ambos discordaram, optando pela tese da reforma e recuperação do velho.
A justificativa era, sem dúvidas, válida: necessidade de um equipamento em uso o mais breve possível, o que batia de frente com o longo período de construção de um novo. Que viria socorrer a comunidade turística, ávida por uma solução mais imediata. No bojo do posicionamento do Governo do Estado, aliava-se a decisão do seu titular pela construção futura de um novo espaço. E já sinalizava que deveria ser, por sua escolha, do Governador, a área onde hoje se encontra instalado o quartel dos Fuzileiros Navais. 
Em frente ao final do porto da cidade e próxima da Feira de Água de Meninos, entendo que não é, de modo algum, a indicação ideal e plausível. De difícil acessibilidade e sem condições naturais para permitir vasta área destinada a estacionamento, alia-se a sugestão pelo equidistanciamento de toda a hotelaria da cidade.
Mas, dizia minha mãe que “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. 
Embora toda a hotelaria – segmento dos mais empenhados pela solução definitiva – discorde frontalmente da hipótese, tudo indica que o Governo do Estado está decidido, pelo menos é como tem sinalizado.
Porém, o trágico foi que, objeto de reforma que já demanda alguns meses, lamentavelmente, o velho Centro de Convenções teve uma sua área considerável desabada, comprometendo toda a obra que vinha sendo executada e que já se encontrava nos seus dias finais. E o que é mais sério, impedindo o seu funcionamento, Deus sabe se ainda possível no futuro.
Quando alinhavamos estas linhas, os órgãos competentes estão cuidado de elaborar parecer resultante da inspeção técnica que será realizada, a fim de concluir sobre qual o destino que estará reservado ao nosso velho, garboso e historicamente eficiente Centro de Convenções.   
São fatos que fazem a história.

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