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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

CARNAVAL NO TEMPO E NO ESPAÇO

CARLOS CASAES
ABRAJET BA
Na última publicação, falei sobre o Carnaval e, ligeiramente, da sua história. Deixei aberta a possibilidade de relatar como surgiu o Trio Elétrico, esse equipamento que transmudou inteiramente o reinado de Momo de Salvador, com influência em todo o Brasil.
Em Fortaleza da mesma forma, o Trio Elétrico invadiu as suas praias, desde a de Iracema, passando por Meireles e até Mucuripe, pelas quais os desfiles carnavalescos absorvem aquela invenção de Dodô e Osmar, que se faz amalgamar aos blocos locais para agitar as massas.
Verdade que, hoje, o Carnaval não se limita tão-somente aqueles dias de Fevereiro, antes da Quaresma, mas se espalha por todo o ano, numa programação que busca movimentar as massas e ativar o turismo. E o Trio Elétrico la está a conduzir todos os movimentos.
Verdade deve também ser reconhecida de que, como falei da vez anterior, já não mais essas concentrações se limitam as músicas próprias do Carnaval. Mas se desviaram inteiramente para proporcionar autênticos shows ambulantes, em que os astros e estrelas divulgam os seus sucessos, percorrendo toda a escala de ritmos e valores musicais.
E é o Trio Elétrico que tem comandado essa farra nacional o ano inteiro. Até o famoso Galo da Madrugada é embalado por inúmeros trios elétricos que conduzem os diversos blocos aliados numa unidade que o faz proclamado como o maior do mundo.
Mas, como surgiu o Trio Elétrico? Na década de 50, o frêvo pernambucano já se fazia notado no país inteiro, através da sua forma de conduzir um autêntico balé popular, consubstanciado pelos passos acrobáticos e tendo numa “sombrinha” colorida o artefato destinado a manter o equilíbrio na autêntica ginástica dos passistas.
E o que tem o frevo pernambucano com o Trio Elétrico? Seguinte: na década de 50, reafirmo, o bloco “Vassourinhas” de Recife foi convidado a desfilar pelas ruas de Salvador, numa promoção destinada ao aquecimento do Carnaval baiano.
Numa bela e inesquecível noite da semana momesca, lá estavam dezenas de integrantes do “Vassourinhas”, conduzidos pela sua afinada e aguerrida orquestra. A partir da Praça Dois de Julho (Campo Grande) e em frente ao antigo Clube Carnavalesco Cruzeiro da Vitória (Cruz Vermelha), o frêvo comandou uma multidão que, na medida em que ganhava a Avenida Sete de Setembro em demanda a Rua Chile, “engordava” absurdamente. Autêntica e agitada multidão misturou-se aos músicos. Detalhe, ainda àquela altura não eram usadas as cordas para limitar o espaço dos blocos. Desfilavam eles em meio a multidão e se confundindo com ela. Por consequência, porquanto o sucesso dos “Vassourinhas” pelas ruas de Salvador foi tamanho que muitos músicos se acidentaram e tiveram que ter atendimento médico, com lábios partidos e coisas tais.
A repercussão estrondosa do frêvo pernambucano na Bahia mexeu com os brios de Osmar Macêdo. Aliado a Dodô na oficina elétrica de ambos, decidiu que teriam de inventar um instrumento que pudesse mostrar que o Carnaval baiano também sabia empolgar as multidões.
Surgiu então o “pau eléctrico”, que nada mais era do que o arremedo de cavaquinho que fora dotado de dispositivos elétricos, junto com o violão. Osmar, exímio executor do cavaquinho, pôs-se ao lado de Dodô, no acompanhamento ao violão, e mais um companheiro no contrabaixo, os três conectados a duas “cornetas”, que eram aqueles alto-falantes antigos, instalados num “fordeco” conversível. E lá saíram, Carnaval afora, a surpreender os baianos. Em verdade, a Avenida conquistou um aliado fantástico que empolgou deveras a multidão e condicionou o Carnaval baiano a uma nova dimensão que, por justiça, embrenhou-se por todo o país.
Estavam inventados o violão e o cavaquinho eléctricos, responsáveis pela expansão da criatividade na construção de fantásticos e monumentais espaços ambulantes que fazem, hoje, a alegria das massas. 
Atente-se para que os Trios Elétricos, já há algum tempo, deixaram de ser autênticos – movidos pelos instrumentos de corda eletrificados, mas conduzidos por poderosas orquestras miscigenadas a uma percussão violenta.
Com o Carnaval também se faz história.

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