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terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

CARNAVAL NO TEMPO E NO ESPAÇO

Carlos Casaes
Abrajet BA
Já estavamos próximos do fim-de-ano e início de 2017. Evidente que, àquela altura, muitas atenções gravitam em torno do Carnaval que se aproximava. Ocorre-me, então, todo um filme que transita na memória, em configuração da história dessa que é a maior manifestação popular do planeta. 
Com raízes na Europa antiga, o Carnaval brasileiro padeceu da influência, sobretudo, da festividade em Nice, no sul da França. Ali, até hoje, ocorrem os desfiles de carros alegóricos e outras manifestações. Lembro, por exemplo, que durante um certo Carnaval do passado, transitava por Lisboa, Roma e Veneza.
Na primeira, chamou-me a atenção, bem assim a minha filha Carla, que me acompanhava, manter-se a capital lusitana fiel aos antigos sucessos do, então, tríduo de Momo no Brasil. Não passava a alegria lusa dos “Alah - la – ôs” que já marcaram tanto entre nós. 
Em Roma, na Piazza Navona, era onde se concentravam sobretudo as crianças fantasiadas. Mas a música eletrônica dominante era aquela tradicional do cancioneiro italiano, circulando até os “rocks”. Evidente que, para nós, causava uma enorme estranheza.
O mais interessante, contudo, ocorreu em Veneza, onde a concentração popular acontecia na Piazza San Marco. O original é que transitavam inúmeros fantasiados e mascarados, mas estes configurados na imagem do “corvo” e praticavam uma estridente barulheira, na tentativa de imitar o grunhido daquelas aves e de fazer o contra-ponto com as ricas fantasias. Ainda hoje, o corvo é a inspiração dos foliões em Veneza.
Por aqui, o Carnaval enveredou por enorme transformação. A partir da sua base musical, inteiramente diversa, hoje, do que se praticava nos anos 50, por exemplo. Naquelas décadas, uma música própria fazia a alegria dos foliões. Existiam até mesmo os concursos para promover marchinhas e sambas próprios do tríduo. Hoje, transmudou-se a inspiração, fazendo com que, sobretudo em Salvador, Recife e Fortaleza, seja a música comum de meio de ano, entoada pelos mais diversos e consagrados astros.  
Apenas no Rio de Janeiro, ainda que com uma evolução surpreendente, no que respeita as Escolas de Samba, mantêm-se fiéis aos seus sambas-enrêdos sempre direcionados na tradicional inspiração. Evidente que evoluiu sobremaneira o Carnaval carioca desde a Avenida Rio Branco, em que o desfile era no chão, sem os monumentais carros alegóricos de hoje. Estes eram desfilados pelas chamadas grandes sociedades.
Da Rio Branco, o desfile passou a Avenida Presidente Vargas, improvisada temporariamente para receber, já ali, apenas os agigantados desfiles das Escolas, não mais as Grandes Sociedades. A exuberância que alcançaram levou a construção do Sambódromo onde, hoje, ocorre o mais espetacular transcurso alegórico que o mundo conhece.
Em Salvador, a história remonta a velha e tradicional Rua Chile, em que passavam durante as quatro noites (de sábado a terça-feira) desde o corso da Associação Atlética – que já não existe – até os “Deixa a Vida de Kelé”, “Filhos do Mar”, “Filhos do Fogo”, “Mercadores de Bagdad”, “Cavaleiros de Bagdad”, “Internacionais”, “Jacu”, dentre tantos. Nos anos 50 ainda as famílias se davam ao luxo de instalar suas poltronas ao longo das calçadas, de onde acompanhavam tranquilamente a passagem dos blocos. Hoje, o gigantismo exigiu a evolução a, pelo menos, quatro circuitos, desde a Barra ao Centro Histórico e durante sete dias.
Essa nova e grande dimensão corre por conta da invenção de Dodô e Osmar: o Trio Elétrico. São muito poucos os blocos que atuam todo no chão. A maioria vale-se da construção de imensos dispositivos motorizados de onde os astros e estrelas exibem os seus sucessos. E o Carnaval passou a ser o imenso palco de exibição.
Em Pernambuco, a folia divide-se entre Recife e Olinda. Na Capital, destaque para o Galo da Madrugada – maior bloco do mundo – mas, a ele, alia-se o desfile dos grupos folclóricos do Maracatu e queijandas. No Marco Zero é que, no entanto, ocorre, como nos trios de Salvador, a exibição de tantos cartazes da música popular de todos os estilos.
Já em Olinda, na minha opinião, está o mais belo do Carnaval pernambucano. Liderados pelos grandalhões e alegóricos bonecos, a farra ocorre no chão pelas estreitas ruas do bairro, a comandar multidões provindas de todos os quadrantes.
Há muito mais a lembrar, mas o espaço não suporta num so fôlego. Oportunamente, contarei como o clube “Vasssourinhas”, de Recife, foi o inspirador da criação do Trio Elétrico. 

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