Pelos idos da década de 40, tive a felicidade de viver minha infância na belíssima cidade de AMARGOSA, no interior baiano. Vivenciei, então, uma experiência fantástica que os jovens de hoje não conhecem. Foi quando me conscientizei da importância dos sinos das igrejas como vetor de comunicação de massa.
Sim, os sinos eram, então, instrumentos de comunicação diversa, senão vejamos: o chamamento para as missas, o registro de certas horas como o meio-dia e as 18 horas. Mas, da mesma sorte, funcionavam como o instrumento revelador de que algum munícipe houvera falecido. É isto mesmo, a morte de algumas personalidades na cidade era comunicada para toda a população através de toques específicos.
Hoje, passados 81 anos, surpreendo-me com a informação de que dois dos quatro sinos do Novo Mundo voltaram a tocar, depois de 50 anos silenciados. Vale dizer que, em regra, já, há algum tempo, não nos desfrutamos com o prazer de ouvir os toques sugestivos. Instalados nos campanários da Catedral Basílica, no Terreiro de Jesus, os quatro sinos que lá se encontram foram trazidos para Salvador, de Portugal, no século XVI.
Vale lembrado de que os sinos foram criados na China – mais uma dos chineses! – há mais de 4 mil anos, foram incorporados pela Igreja Católica como um instrumento de comunicação com os fieis no século V. A partir de quando conquistaram uma série de funções e simbologia, como falei acima, desde o chamamento para as celebrações e até como instrumento de convocação para protestos e mobilizações.
A história ainda pontua que os sinos serviram como mensageiros da guerra, da paz, como das boas e das más notícias. Habituou-se, também, a ser precursor do povo para assinalar as horas, uma vez que ainda não existiam os relógios. A par de que o rítmo e a intensidade das badaladas destinam-se, igualmente, a expressar sentimentos de alegria, dor, reverência, saudade, respeito, dignidade, confiança, esperanças, zelo, paz e plenitude, dentre tantas outras significações.
Salvador consigna como um dos seus mais antigos sinos o que se encontrava na antiga Câmara de Vereadores, onde esteve até 1886, durante tempo em que funcionava como o chamamento da população para alguns compromissos, fosse simples protesto contra a alta do imposto do sal de 400 gramas.
Já em 1836, registram os anais que inúmeros sinos da cidade tocaram como convocação para a denominada Cemiterada, que nada mais era do que um ato contra o Cemitério do Campo Santo e contra a proibição dos enterros nas igrejas. Até o início do século XIX, os sinos eram importados de Portugal, sendo a Bahia um importante instrumento da sua história no país. Ainda revelam os dados históricos de que a padronização do toque dos sinos no Brasil aconteceu na Bahia por volta de 1707.
Certo dia os sinos da Catedral pararam de tocar, em virtude de não existirem mais sineiros que se dispusessem a subir os 103 degráus da escada íngreme. Vale dizer que sineiros eram os especialistas em tocar sinos. O Pároco da Catedral Basílica valeu-se da experiência ocorrida na Igreja de Nossa Senhora de Santana e recorreu à mesma empresa que havia recuperado os instrumentos daquele templo para a recuperação na Catedral.
Os dois primeiros sinos, dos quatro, feitos de ferro e pesando 480 e 550 quilos não necessitavam de reparos estruturais, mas sequer possuiam badalos. Durante 10 dias receberam novos badalos e teve instalado um cabeamento que vai do sub-solo até o topo da torre. É por onde passa a corrente de 220 volts no sistema que produzirá os seus movimentos destinados aos “toques”, que, incialmente, serão dois por dia: as 12 e às 18 horas.
Foi adaptado um controle remoto que necessita de programação prévia para o que estão sendo habilitados três funcionários. Acredita-se que, com essa iniciativa, outas igrejas deverão seguir o mesmo exemplo. O retorno do funcionamento dos dois sinos da catedral ocorreu no dia 10 passado, consagrado ao padroeiro da cidade, São Francisco Xavier.
Nessa primeira etapa da recuperação dos dois sinos, foram empregados recursos da ordem de R$40.000,00, com a metade desse total proveniente da doação pelos fiéis da paróquia de Santana.
Com a repercussão altamente positiva dessa iniciativa, já está em curso uma campanha para conseguir arrecadar mais R$20.000,00 e integralizar o custo total dessa primeira fase. Enquanto isto, serão buscados mais R$60.000,00 que se destinarão a recuperar os outros dois sinos que, por sinal, são ainda maiores que os primeiros, um dos quais pesando 1,1 tonelada e o outro mais de 600 quilos.
O maior deles tem uma rachadura e passará por avaliação sobre a possibilidade de conserto. Sem qualquer dúvida, considerando que a religiosidade do baiano é, sem a menor dúvida, um instrumento para o desenvolvimento do turismo, sobretudo em Salvador, essa é uma notícia que, indiscutivelmente, deverá se incorporar aos tantos atrativos que a cidade acumula como patrimônio do seu turismo.
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