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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

CALEIDOSCÓPIO - BIP BIP, ESPELHO DE UMA COPACABANA BOÊMIA

Com sobrada  razão, o Velho Ari Barroso, misto bom de muitas faces como radialista, compositor  consagrado e letrista de primeira, cantou o Rio de Janeiro como  “Cidade Maravilhosa”.  Dick Farney e Tom Jobim consagraram Copacabana, a “Princesinha do mar”. É assim mesmo. O Rio tem seus encantos mil  não apenas como moldura de uma paisagem exuberante, em que a geografia se mostrou magnânima. O espírito bonachão e único de seu povo ajuda a gente se quedar diante de natureza tão pródiga. A velha e sempre renovada Copacabana é o retrato fiel de tão cativante cidade. Se não possui o mesmo “glamour” de anos passados, jamais perdeu  sua realeza. Lá estão  famílias tradicionais,  lá ainda está imponente o Copacabana Palace, lá se acham  pulsantes os restaurantes, bares e botecos que projetaram a  vida da cidade  “cheia de encantos mil”. Pois é  neste “pedacinho do ceu” que costumo hospedar-me, em bons apartamentos na Nossa Senhora de Copacabana ou, como agora, na Almirante Gonçalves, graças à intermediação dos sempre queridos amigos Paul e Regina. Os dias corridos na Feira das Américas, no fim do mundo que é o Riocentro, foram compensados pelas noitadas de bate-papo no Belmonte, na Bolívar. Mais ainda, por haver conhecido e desfrutado da “vida” do Bip Bip, na Almirante Gonçalves, 50, um boteco de nada mais  que 18 metros quadrados e 40 anos de muita estória. O Alfredo, ou Alfredinho como carinhosamente é tratado, é o dono do pedaço. Uma cara fechada que não reflete a afabilidade de um esquerdista sincero e que teve seus momentos ruins durante o último regime militar, principalmente quando surgiu o Bip Bip,  no 13 de dezembro de 1968. O  dia não seria para se comemorar pois foi justamente a data do AI 5, de triste memória. Mas o boteco é uma trincheira que resiste ao tempo, tornando-se no passar dos anos reduto não apenas de idealistas políticos mas de uma gama variada de gente que curte o bom samba, o chorinho, a Bossa Nova. E é porque na calçada do apertado espaço só ficam umas poucas mesinhas com cadeiras. Quem quiser beber, que vá ao balcão, apanhe a sua cerveja ou que bebida for e depois se dirija ao Alfredo, sentado numa mesa na calçada,  para as anotações e pagamento. Mas uma pequena multidão de umas 30,  40 pessoas não se incomoda de ficar um  tempo sem fim de pé  para curtir feliz o desempenho dos artistas que dão o “show” no apertado reduto. Os tocadores. Ah! estes são muitos e dia a dia mudam de cara. Vão para lá com violões, pandeiros e cavaquinhos debaixo do braço. Dão o seu recado e voltam felizes  pois fizeram o de  que mais gostam. E não são pé rapado. Gente de nome por lá passa, do morro, da televisão, do rádio, não é Beth Carvalho?. Num dos momentos em local tão aconchegante, vi o Alfredinho levantar-se do  seu reduto e, com voz mais alta, enganosamente parecendo raivoso, dirigir-se à “geral”: “Um momento, vou falar. Estão aí conversando muito alto, não respeitando os artistas. Aqui é um local para se ouvir a boa música. Nós respeitamos  e não desejamos perturbar os vizinhos. Assim, quem não quiser ficar calado, ou conversar baixo, que vá embora”. Foi água na fervura e ninguém saiu.  Pois é assim o BI Bip, uma tradição da noite carioca até a uma hora da madrugada. Reconhecido pelo poder público, com as paredes repletas de fotos de acontecimentos históricos, de futebol e de  grandes sambistas, sem dúvida é um altar  em que se venera a tradição de um povo que procura a felicidade.  

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