Na última segunda-feira, 19, o Liceu do Ceará completou 170 anos, uma data que muito engrandece o ensino e a cultura do Estado. O seu prestígio educacional, que tinha como espelho o famoso Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, responde em grande parte pelo alicerce do edifício cultural do Estado, já que por lá passaram as grandes mentes formadoras do pensamento cearense. No terceiro estabelecimento de ensino mais velho do Brasil, desde os primeiros anos de sua fundação, os professores eram as mentes mais respeitadas pelo saber e que ocupavam suas cátedras após aprovação em concursos rigorosos para cada disciplina, embates tidos como uma festa de saber, acompanhados pela elite das letras, ciências e artes da terra. Respeitado e prestigiado, o Liceu, até o início da década de 1950, tinha porta estreita para lá quem quisesse entrar. Os famosos exames de admissão eram rigorosíssimos, sendo festa e orgulho para as famílias que tivessem seus filhos vitoriosos. Por um desses bons lances do destino, ingressei no Liceu em 1940, ainda sentindo o peso da tradição do modelar recanto de ensino. Os professores, não me lembro de exceção, eram mestres conceituados, quase todos integrantes também da Faculdade de Direito, da Escola de Agronomia ou da Faculdade de Farmácia e Odontologia, então os únicos de ensino superior do Ceará. Como eram admirados e respeitados o diretor Otávio Terceiro de Farias, os professores Martins de Aguiar, Domingos Barroso, Hugo Lopes de Mendonça, Dario Soares, Padre Quinderé, Autran Nunes, Hermenegildo Firmeza, Waldemar Barros, Boanerges Saboya, César Campelo, Byron, Osvaldo, Leopoldino Filho, Deoclécio Ferro, Odilon Braveza, João Damasceno, Edmilson Sousa Lima, Correia de Araújo e tantos outros que pontificaram no grande colégio do Jacarecanga. Como ainda hoje, era um referencial do bairro, lado a lado com o Corpo de Bombeiros, pouco depois de ser transferido de um prédio localizado na Praça dos Voluntários, hoje, modificado, uma das unidades da Polícia Civil. Como aluno, tive a dita de conviver com colegas que se projetaram na vida, como médicos, desembargadores, advogados, cientistas e outras careiras liberais, assim como empresários de projeção nacional. Em l945, fiz parte da Turma do Centenário. Pelos idos de 1951, ingressei no Liceu como professor, um plumitivo que tremeu quando participou de uma bancada examinadora de alunos que tentavam o Exame de Admissão. Também!, da banca faziam parte os Mestres Martinz de Aguiar e Otávio Farias, seus dois consagrados professores. Os colegas de então, também eram referenciais no ensino do Ceará, muitos deles já no Horizonte Eterno. Quem não festejava Adroaldo Castelo, Sildácio Matos, Jaborandy, Mena Barreto, Raimundo Gurgel, Tito Miranda, Francisco Brilhante, Manoel Cavalcante, apenas para citar alguns! Por causa do Livro do Destino, ainda continuamos por aqui, juntamente com o Ary Sidou, Plínio Sá Leitão, José Maria Bandeira, além de uns poucos colegas. Tempos atrás, soube que o Veloso também deu adeus e partiu. A vida é mesmo uma roleta. Depois de alguns anos, já calejado como jornalista desde 1945, andei fazendo parte da vice-diretoria do Colégio e da coordenação dos Exames Supletivos, ao lado de Boanerges Saboya, de comissões na Secretaria de Educação, do quadro de magistério da Academia de Policia Civil e da LBA, como pedagogo (tinha graduação na Faculdade de Filosofia do Ceará). Finalmente, esta parte final pode não fazer parte da minha proposta de reverenciar o Velho Liceu. Mas faz, porque tudo que consegui, toda estrada ascendente devo e foi forjada graças ao que o colégio de Gustavo Barroso me ofereceu. Os tempos agora são outros e o Liceu, hoje Colégio Estadual Liceu do Ceará, continua perseguindo a liderança do ensino do Estado, com professores competentes e qualificados, mas sempre envolto no burburinho da chamada vida moderna, da massificação de um ensino que se diz globalizado. Torcemos para que os seus atuais dirigentes e professores, com persistência e determinação, espelhados num passado de glórias, continuem mantendo a todo o custo a aura de um estabelecimento padrão, querido pela comunidade.
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