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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

COMO MÁRIO DEIXOU DE SER GOVERNADOR

Carlos Casaes -Abrajet BA
No último comentário que aqui publiquei, falei sobre um amigo que conheci na Prefeitura de Salvador e com o qual travei uma amizade irrecusável. Afirmei que, na realidade, deixou de ser Governador da Bahia – na minha avaliação – inteiramente por conta do acaso.
Foi o seguinte: aproximava-se mais uma eleição em todo o país. Antonio Carlos Magalhães estaria cedendo o seu posto de Governador ao seu sucessor e, por evidente, como o grande líder que era, buscava selecionar os seus correligionários para escolha final do seu candidato. O meu amigo, então, estava ocupando o prestigiado cargo de Prefeito Municipal de Salvador.
Dentre vários nomes que vinham sendo cogitados, para mim, os que mais se destacavam eram os de Luiz Antonio Sande de Oliveira, Clériston Andrade e o do meu amigo. Segundo muito se comentou, ACM encarregou os três de trabalhar as bases no Estado a fim de que ele, no momento propício, pudesse escolher o que estivesse melhor colocado estadualmente no partido.
A minha avaliação é de que o meu saudoso amigo Luiz Sande não tinha muita vocação para político, embora administrador dos mais capacitados e que teve desempenho espetacular tanto na Secretaria de Finanças da Prefeitura, quanto na Secretaria da Fazenda do Estado, no BANEB e, posteriormente, no BNH. Já o outro meu amigo, ainda que trouxesse uma bagagem admirável pela sua passagem como Secretário do Planejamento, confinado na Prefeitura, como estava, não tinha facilidade de penetração nas “forças” do interior do Estado. Enquanto Cleriston Andrade, então Presidente do BANEB, encontrava-se com toda uma poderosa máquina na mão, a par de ser uma autêntica “raposa”, na arte das articulações.
Chegado o momento propício, ACM reuniu os elementos de que dispunha para avaliação e decidiu a escolha pelo nome de Clériston Andrade. Com o que não concordou o meu amigo, então Prefeito de Salvador. Aquela discordância, evidente, “bateu de frente” contra a decisão do “todo poderoso” ACM. Tal desencontro gerou como consequência a sua defenestração da Prefeitura.
Ali aconteceu o fato mais impressionante que, em mais uma oportunidade, demonstra como a vida é caprichosa, surpreendente e irônica. Desencadeada a campanha, o meu amigo, evidente, ficou a margem, já rompido com o grupo que até então integrara. Todavia, poucos dias antes da eleição, quando se deslocava para um município do interior da Bahia, em plena campanha, o candidato de ACM, Clériston Andrade, foi vítima fatal de um acidente com o avião em que se encontrava, juntamente a outros companheiros, como o meu saudoso colega e amigo dos Diários Associados, o jornalista Fernando Presídio.
Aqui vem a conclusão: diante da posição de prestígio que sempre ocupou no grupo, como o auxiliar mais prestigiado pelo próprio Antônio Carlos – tanto assim que esteve a ocupar o mais importante cargo da estrutura administrativa do Estado, Prefeito de Salvador, além de ter sido o seu mais próximo auxiliar, quando ACM na Presidência da Eletrobrás – o meu valoroso amigo seria, sem a menor dúvida, o sucessor a ocupar a função de candidato a Governador, vago pela morte de Clériston. Estou seguro de que, a época, ninguém duvidava dessa assertiva.
Por conta dos desentendimentos anteriores, ACM ficou quase sem opção. E como teria que, de imediato, indicar o novo candidato, porquanto as eleições já se encontravam a apenas alguns dias, acabou indo buscar em Feira de Santana o nome do ex-Prefeito daquele Município, João Durval Carneiro, tirando-o – como se afirmar no jargão popular – do bolso do colete. Àquela altura e diante das circunstâncias, se a eleição de Clériston já estava assegurada, a do seu sucessor seria quase que uma “nomeação”.
Foi assim que o meu querido Mario Kertész deixou de ser Governador da Bahia, por força do trágico acaso.
No entanto, ainda que houvesse buscado novas investidas na política, o que lhe valeu mesmo foi a sua surpreendente revelação como um grande e espetacular Comunicador. Dotado de inteligência privilegiada, optou por abandonar a militância política e investir em meios de comunicação. 
Decidiu, então, montar a Rádio Metrópole que, logo nos seus primeiros movimentos, não se constituiu apenas em mais um veículo do cartel baiano. Passou a liderar a audiência em virtude da inteligente estratégia montada, privilegiando a comunicação direta por todas as suas formas, fugindo do lugar comum do veio musical e montando uma programação jornalística primorosa.
E, o que foi mais importante, chamou a si a responsabilidade da liderança ao vivo, constituindo-se numa gratíssima surpresa, porquanto nunca antes havia experimentado investida na comunicação.
Desde então, Mário Kertész é uma referência absoluta no panorama radiofônico baiano, constituindo-se, por consequência, num trunfo de influência política considerável.
Guardo na memória alguns fatos que comprovam fartamente o posicionamento de total destaque que alcançou junto ao próprio ACM. Como Secretário de Planejamento, por exemplo, a sua força era tal, especialmente como veio final de decisão, que se dava ao luxo de “esnobar” deputados, e deixá-los esperando na antessala, sem querer recebê-los. 
Tive a oportunidade de ser convocado pela sua Secretária para tentar contornar a situação, uma vez que o Deputado já estava impaciente, revelando-me ela, particularmente, que Mário recusava-se a o receber. Naquelas oportunidades, entrava no seu Gabinete e, diante do argumento de que o Deputado só ia ali para lhe pedir favores e  ocupar o seu precioso tempo com banalidades, contraditava com a afirmação de que ele ocupava um cargo político, o de Secretário, e, então, teria que se submeter a regra do jogo, ainda que em situação deveras desagradável.
Assim era o Mário Kertész que conheci. Lembro também que, num raro momento de infortúnio pessoal de ACM, fora Mário quem estivera ao seu lado para lhe injetar a força da solidariedade, que lhe pudesse amenizar o sofrimento. Um gesto e uma presença muito singular, então.
Há muito mais agradáveis lembranças, mas fica para um outro momento.

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